Relatório de 2005 previa possibilidade de acidentes

Texto sugere medidas de segurança nas escavações

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Por Eduardo Reina e
Atualização:

Um dos relatórios da Nick Barton & Associates, ao qual o Estado teve acesso, com recomendação sobre o rebaixamento do nível das obras, principalmente na Estação Pinheiros da Linha 4-Amarela, foi profético ao avisar que "ocorrerão" problemas. Barton é um dos maiores especialistas em túneis do mundo. "Se fosse mais baixo o túnel, o acidente poderia ter sido evitado", disse. O capítulo 5 do documento apontava que a Linha 4 do metrô havia sido projetada em cota muito elevada, e construída numa zona identificada como de rocha alterada. Ele ressaltava que esse posicionamento "se apresenta como um fator de risco potencial para as ruas". Também mostrava que o projeto deixou a profundidade dos túneis e das estações muito rasa, apesar da existência de relatórios que descreviam as conseqüências potenciais decorrentes de uma decisão assim. "Fatores como o estado de alteração profunda das juntas condutoras de água, muito planares, a tendência suborizontal da direção máxima de permeabilidade, maximizando as pressões instabilizadoras nos poros (fraturas) em locais comprometedores para a estabilidade das cunhas e a existência típica de três famílias de juntas extensas, nas cotas mais altas, causam um efeito de bola de neve nos problemas que podem ocorrer (e ocorrerão)." No texto de 20 de dezembro de 2005, Barton sugeria a construção de capa protetora ao redor do teto e das laterais do túnel, para reduzir a quebra da rocha além do perímetro de escavação. Essa medida garantiria aprimorar as condições de segurança das escavações na construção dos túneis e das estações da Linha Amarela. O último laudo da Barton, de 27 de março último, contratado pela Via Amarela após o acidente que matou sete pessoas, mostra que o problema foi provocado pelo deslocamento de uma rocha de 15 mil toneladas não detectada pelas sondagens. Na elaboração do projeto funcional da Linha 4, em 1990, o Metrô estudou a possibilidade de construir um trecho na região do Rio Pinheiros de forma elevada, por causa das características do solo. Em entrevistas na época, o ex-secretário dos Transportes Metropolitanos, Cláudio de Senna Frederico, afirmou que o terreno na área da futura estação é "problemático", e suas características eram de conhecimento dos técnicos do governo.

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