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Remoção de sem-teto vira polêmica

Por Agencia Estado
Atualização:

A remoção de um grupo de aproximadamente 2 mil sem-teto de um terreno particular em Osasco, na região leste do Estado de São Paulo, motivou uma briga entre o prefeito de Guarulhos, Elói Pietá (PT), o governo do Estado e o prefeito de Osasco, Celso Giglio (PSDB). Em acordo fechado com as famílias, o Estado comprometeu-se a alojá-las temporariamente numa área da CDHU, no Jardim Aracília, em Guarulhos, mas Pietá não gostou e quis impedir a mudança. O prefeito alega que o governo e o prefeito de Osasco querem repassar o problema para outro município, e o local não tem condições de receber ninguém. Ele entrou nesta sexta-feira com uma ação solicitando liminar contra as remoções, mas até o final da noite o pedido não tinha sido acatado. ?Aquilo ali parece um campo de refugiados na África?, disse Pietá. É a mesma opinião do diretor para a América Latina e Caribe do Programa de Gestão Urbana das ONU, Yves Cabannes, que visitou o local a pedido do prefeito. ?Não há o mínimo de dignidade ou respeito aos direitos humanos.? A área em questão, como diz a sem-teto Tania Melo, ?não é um terreno, mas uma capoeira.? No barranco coberto pelo mato não há luz nem água, e o comércio mais próximo fica a quilômetros de distância. Além de recorrer à Justiça, o prefeito determinou que a Guarda Civil brecasse a passagem dos caminhões de mudança. Os mais de 30 veículos, conduzidos por funcionários da Prefeitura de Osasco, ficaram estacionados numa praça, durante quase 10 horas. A passagem só foi liberada por volta das 20 horas, com a chegada do secretário de Estadual de Justiça, Alexandre Moraes, munido de uma notificação do Ministério Público Estadual (MPE), que garantia a mudança dos sem-teto. Segundo o secretário, Pietá poderá ser responsabilizado civil e criminalmente pela atitude. ?Ninguém pode impedir o acesso de cidadãos a um município. Além de tudo, a instalação dos sem-teto é provisória e o terreno pertence ao Estado.?, disse Moraes. Já o prefeito de Osasco, Celso Giglio, alega que não tem culpa dos problemas. ?Havia uma ordem de desapropriação que precisava ser cumprida. O que fizemos foi apenas ajudar na mudança, a pedido do governador. Acho que o Pietá está sendo insensível.? O impasse entre prefeitos e Governo só piorou a situação dos sem-teto. Sem acesso às mobílias e mantimentos transportados pelos caminhões, eles passaram a maior parte do dia ao relento. Adultos, crianças e idosos, incluindo deficientes físicos enfrentaram sol forte, chuva e fome. ?Eles prometeram cestas básicas, mas não deram nada. Eu e meu marido estamos há quase dois dias sem comer nada?, disse chorando a dona de casa Maria Barbosa, de 45 anos. Já a ajudante geral, Nécia Ribeiro Viana, conseguiu levar o fogão e improvisava o jantar no meio da estrada. ?Estou cozinhando couve, arroz, feijão e macarrão, e vou distribuir para o pessoal?, contou. Além de se ocupar das panelas, Nécia tinha que driblar os insetos, que rodeavam o fogão e castigavam os sem-teto com picadas. ?Eles não dão sossego.? Outros animais bem mais perigosos também marcaram presença, entre eles uma cobra que acabou morta a pauladas. ?Era uma cascável, tenho certeza?, garantiu o desempregado Milton Machado, de 51 anos.

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