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Respeitável público, o palhaço está de volta

Após sete anos no Cirque du Soleil, Marcos Casuo ?quer fazer SP sorrir?

Por Vitor Hugo Brandalise
Atualização:

Ao descer do avião em Gijón, na Espanha, em julho de 2007, o paulistano Marcos Casuo, palhaço profissional, olhou imediatamente para trás. No aeroporto, uma turma gritava e aplaudia - haveria alguém famoso, descendo a escada também, exatamente naquele momento? Ainda desacostumado, não percebera: o famoso era ele mesmo, o clown Casuo do Cirque du Soleil, um dos protagonistas do espetáculo Alegría. "Não esperava, me emociono só de lembrar", ele diz - negando, porém, qualquer sugestão de saudade. Pouco mais de dois anos depois, já fora da trupe, Casuo lembra a passagem para confirmar velha máxima. "Nem toda fama me trazia felicidade. Queria me sentir livre novamente para criar." Na nova fase, as aspirações adquiriram contornos locais - se antes, no auge da carreira, o palhaço queria levar sorrisos ao mundo todo, a aspiração agora é fazer rir sua cidade. Começando, promete, pelo próprio bairro. Entre 2002 e 2008, o palhaço Casuo - de 35 anos, nascido e criado no Jardim das Flores, zona sul da capital - foi o único brasileiro a participar do Alegría, do Cirque du Soleil, espetáculo para o qual criou cinco números, utilizados até hoje pelos palhaços da companhia. Foi o único brasileiro, também, a conseguir tal façanha - e, por mérito próprio, recebe royalties até hoje. Viajou por 22 países, concedeu entrevistas coletivas em cinco línguas, foi festejado como um dos melhores palhaços do País. Ficou conhecido especialmente em 2008, quando a companhia fez shows em Porto Alegre e São Paulo. Deixou a companhia em julho do ano passado, por opção própria. "Ciclo encerrado, só isso. E decidi que não saio mais do Brasil. Minha história agora é aqui." Eis a essência da nova fase do palhaço. No ano passado, fundou companhia própria, batizada Universo Casuo - "não é personalismo, o programa pretende beneficiar artistas circenses de todo o País" -, e iniciou em julho turnê nacional. Na tentativa de "elevar o circo nacional a um novo patamar", utiliza efeitos de som e luz criados com o que aprendeu no Cirque. Desde o início do ano, apresenta-se no interior do Estado e, em agosto, tem shows marcados em Campinas e Curitiba. "Mas meu sonho é me apresentar novamente em São Paulo, onde tudo começou." Segundo Casuo, as negociações para se apresentar em outubro, no Teatro do Shopping Eldorado, estão em fase final. "Falta só acertar detalhes, me arrepio só de pensar." Além do projeto de seu Universo - ainda "em fase de implantação e divulgação" -, desde que deixou o Cirque, em julho de 2008, Casuo se dedica a apresentar sua arte para quem, segundo ele, mais precisa. Ao menos uma vez por mês, interrompe a rotina de treinos e ensaios para visitar orfanatos, asilos, hospitais. Nos moldes dos Doutores da Alegria, e lembrando as palavras da avó - para quem "um sorriso alivia todas as dores" -, criou um selo próprio: o Clown Aspirina. "É bom para todas as dores. Aprendi desde o início de minha carreira (no Grande Circo Popular do Brasil, companhia do ator Marcos Frota), a importância do papel social do circo, que chama a atenção de tanta criança", diz. "Nunca me senti tão bem quanto agora. Tive de ir longe, para voltar e perceber que tudo o que preciso está aqui." Ao falar de algo bem próximo, o próprio bairro, o palhaço - que ainda treina caras e bocas no chuveiro - expõe a melhor das expressões. "No Jardim das Flores, as crianças ficaram sabendo dos números que faço, saem correndo atrás do meu carro", conta. "Não resisto. Vou ter de levar minha trupe para lá, muito em breve." Por enquanto, a ideia é montar um palco na rua ou usar o pavilhão da igreja do bairro - local onde o artista praticou dança pela primeira vez, numa aula de capoeira na sala paroquial. TRAJETÓRIA A capoeira o apresentou à turma da break dance, que o levou ao pessoal da ginástica artística, do balé, do jazz. No meio tempo, fez todo tipo de bico - em seu currículo, somente entre os 12 e os 17 anos, constam os serviços de mecânico, estoquista de almoxarifado, office boy, garçom, frentista e caricaturista de um jornal em São Carlos, no interior, onde morou com a mãe. Mesmo em academias ou tablados de dança, o que gostava mesmo, desde pequeno, era de fazer rir. "Tinha 4 anos quando minha avó me chamou pela primeira vez de ?palhacinho?. Nunca esqueci", conta. "Na escola, era sempre o brincalhão." A chance de profissionalizar a arte do sorriso surgiu em 1992, aos 17 anos, quando olheiros da companhia de Marcos Frota o chamaram para um teste. "Aprendi tudo por lá." Nos nove anos de companhia, se revoltou ao ver colegas e colegas irem, aos poucos, perdendo os empregos. "Principalmente após certa idade." Entre seus projetos, está a criação de Clown Schools, nas quais pretende oferecer bolsas para artistas desempregados. No Universo, faz questão de apresentar shows com artistas de várias idades - o número mais aplaudido tem como protagonistas dois acrobatas, de 45 e 75 anos. "Na alma, o artista não morre. E nada mais triste do que a imagem do palhaço triste."

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