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Respeito à natureza, na simplicidade do dia-a-dia

Artigo

Por Patrícia Palumbo
Atualização:

É domingo em São Paulo. O dia amanhece ensolarado depois de uma noite com muita chuva e vento. Aproveito o ar fresco e vou podar aquele manacá de jardim que está querendo dar flor. As folhas viram composto orgânico que dá para produzir no quintal dentro de uma caixa de madeira. No embalo, vou adubar os vasos, afofar a terra, conferir aquele ninho de sabiás que há dias é pacientemente construído numa jabuticabeira em frente de casa. Esses sabiás são impressionantes, estão em todo lugar. E como cantam! Até de madrugada. Aproveitamos o fim de semana pra instalar um espelho novo em cima da mesa de jantar, feita de madeira de demolição, e o papelão da caixa vai pro contêiner da vila, onde depositamos os recicláveis. A Prefeitura recolhe toda terça-feira. Nesse mesmo dia chega a feira, que aqui em casa é orgânica. Compro pela internet da Caminhos da Roça, uma iniciativa que reúne vários produtores. Tudo da época. Nada de morangos enormes o ano todo. Quando é a hora, as mangas chegam dulcíssimas. Comprar de casa me economiza tempo e combustível. Numa mesma Kombi, a entrega é feita para inúmeras pessoas. Depois de mexer no jardim, vamos para a padaria com nossa sacolinha colorida de feira comprar o lanche da tarde. Assim, não trazemos para casa nenhum saco plástico ou papel desnecessário. Por mais que possam ser aproveitados para pôr o lixo, o melhor é reduzir o consumo e saber separar os materiais. O que é reaproveitável pode ser destinado para outra pessoa. O que é reciclável vai para a coleta seletiva, para os catadores de papel, para os postos de coleta dos supermercados. Não é tão simples, eu sei. Estávamos acostumados a uma lata de lixo gigante onde se jogava de tudo: jornal lido, papel higiênico, casca de laranja, o finzinho do arroz da panela, as pilhas gastas... Hoje, podemos usar até quatro, cinco latas diferentes, uma para cada tipo de descarte. Latinhas de alumínio já têm destino fácil, assim como o papel: basta chamar um catador de rua ou uma cooperativa. Para a coleta seletiva pode ir até embalagem Tetrapack, que antes era um mistério pra resolver como aproveitar. Hoje eles separam o alumínio do papelão. Para sobras de comida, se você tem um restaurante, uma quitanda, ou um mercado, pode entrar em contato com o Banco de Alimentos, uma iniciativa genial de redistribuição (www.bancodealimentos.com.br). Recebi um e-mail outro dia contando que dois meninos de 11 e 13 anos, Lucas e Luan, por iniciativa própria fizeram coisas incríveis em casa. Pra tomar banho, eles colocam uma bacia debaixo do chuveiro e essa água vai para a descarga. Pra escovar os dentes, em vez de abrir a torneira, eles usam uma garrafa pet cheia de água e ainda brincam de calcular quanta água usam por vez. Achei genial! Por conta do exemplo deles estou aqui procurando um jeito de aproveitar a água da chuva na praia para regar o jardim. Vamos instalar calhas com um sistema de coleta. Já existem modelos de cisterna muito modernos e eficientes. E não são caras. A Embrapa disponibiliza a tecnologia. Voltando ao domingo, passeando a pé pela redondeza vi um rapaz limpando a calçada com uma daquelas máquinas de jato d?água. Fico sempre espantada, mais ainda quando é aquela calçada enorme das casas enormes. Inventei pro rapaz que tinha uma multa da Prefeitura para o que ele estava fazendo. "Jura? Nunca soube disso!" Pois é, eu disse, é novidade. Tem multa pra você que está usando a máquina e pro seu patrão que é o dono da casa. Acho que ele não acreditou e com certeza também não acredita na fiscalização da Prefeitura porque continuou fazendo o estrago. Essa multa não existe, mas bem que podia... Sem abrir mão do conforto que conquistamos e sem ficar o tempo todo na berlinda, dá para praticar no cotidiano os conceitos de sustentabilidade. Consumir com consciência, sem acúmulo desnecessário, usar menos o carro e fazer pequenos trechos a pé ou de bicicleta pelo bairro. Usar produtos orgânicos que são muito saborosos e estão livres de soda cáustica e outras barbaridades. Você ajuda na cadeia toda. Apoiar iniciativas coletivas também é muito legal. Faça da sua vida uma vida sustentável com atitudes simples. Divulgando boas ações, doando seus móveis usados, apagando as luzes da casa, do banheiro do bar quando você sair, bobagens cotidianas que funcionam como pequenos truques para uma verdadeira mudança de hábitos. *Patrícia Palumbo é jornalista, ambientalista e apresentadora da Rede Eldorado

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