Restauro poderá render propaganda

Prefeitura de SP pretende autorizar publicidade em tapumes para quem investir na reforma de prédios históricos

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Por Rodrigo Brancatelli
Atualização:

De todos os dividendos da Lei Cidade Limpa, a recuperação de áreas públicas é uma das ações que menos avançaram na capital nesses dois anos e meio da regulamentação. Mas também é uma das que mais tem potencial de mudar de fato a paisagem paulistana - vide a reforma de monumentos pela iniciativa privada, que ocorreu em troca da instalação de publicidade. Na tentativa de incentivar essa prática, a Prefeitura vai agora estender o benefício para quem quiser investir no restauro de patrimônio de São Paulo. Como benefício por reconstruir fachadas e dar novos usos aos imóveis históricos, empresas poderão colocar logomarcas em tapumes e em placas indicativas, uma brecha que pode ajudar a bancar reformas que hoje estão só no papel. "A iniciativa privada já pode assinar termos de cooperação para restaurar prédios históricos privados, mas iremos repensar os benefícios para que haja mais interesse", diz a arquiteta Regina Monteiro, coordenadora da Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU). "Quem investir no restauro da fachada de um imóvel histórico do centro, por exemplo, poderá colocar publicidade nos tapumes e instalar uma placa indicativa. Da nossa parte, iremos ajudar com o levantamento das plantas originais e na identificação de prioridades." A CPPU está montando um projeto-piloto desse programa em um imóvel histórico da Praça do Patriarca - depois de localizar a planta e fotos antigas que mostravam a fachada original, o proprietário e empresas interessadas serão procurados para iniciar a reforma. "Ali naquela região, depois da Lei Cidade Limpa, cada proprietário pintou seu imóvel de um jeito diferente e não se preocupou com o restauro", diz Regina Monteiro. "Isso acabou criando um outro problema para a gente. Com esses termos de cooperação, poderemos criar interesse para que as fachadas sejam padronizadas e voltem a ter os elementos históricos preservados." CONTRAPARTIDA Para o arquiteto Mario Cardoso Biondi, que elabora atualmente planos de revitalização de imóveis privados tombados pelo patrimônio municipal na região central de São Paulo, a ideia pode ajudar a acelerar reformas que teimam em não sair do papel por falta de verbas. "Mas isso só vai acontecer se a Prefeitura deixar que as empresas tenham algum tipo de publicidade permanente, não só durante o período do restauro", diz. "Restaurar é muitíssimo caro, sempre. Então a contrapartida tem de ser extremamente atrativa. Se isso ocorrer, esses termos de cooperação podem dar uma nova cara ao patrimônio histórico do centro." A participação das empresas na preservação do espaço público cresceu nos últimos anos graças a um decreto do prefeito Gilberto Kassab, que permitiu a instalação de pequenas placas com publicidade das empresas que aderem ao programa de conservação. É uma espécie de brecha na Lei Cidade Limpa - entre os quase 800 termos de cooperação assinados até hoje, que resultaram em investimentos de R$ 80 milhões, houve desde preservação de parques, reforma de passarelas e restauro de monumentos até a revitalização do bairro da Liberdade.

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