Revólveres, facas explosivos e até uma granada em Bangu 3

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Por Agencia Estado
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Durou 75 horas a maior rebelião em presídios da história do Rio. Quarenta e sete reféns foram libertados no início da tarde de hoje, meia hora depois que seus parentes foram agredidos por policiais militares quando faziam uma manifestação pacífica. Os detentos do presídio de segurança máxima Doutor Serrano Neves (Bangu 3) renderam-se depois que autoridades assinaram um documento garantindo a integridade física dos presos. Eles estavam armados com pelo menos sete revólveres, uma granada, explosivos e facas artesanais. O secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, disse que a demora nas negociações ocorreu pelo temor dos presos em sofrer represálias por causa da morte do agente penitenciário Luiz Carlos Bonfim. Todos os guardas foram afastados do presídio, que ficará sob controle de policiais militares pelo menos até o fim do ano. ?O Batalhão de Operações Especiais (Bope) tem as melhores técnicas de invasão e poderia acabar com tudo em poucos minutos. Mas o Estado não vai ficar marcado como um novo Carandiru?, afirmou Astério Os parentes de reféns viram de perto o que o secretário chamou de ?melhores técnicas? do Bope. O comandante da tropa de elite, coronel Fernando Príncipe, se descontrolou ao tentar entrar no complexo penitenciário e encontrar metade da rua tomada pelos familiares. Ele desceu do carro e agrediu a dona de casa Sandra Luzia Silva Freire, de 37 anos, tia do refém Rafael Batista. Os PMs também atacaram os outros manifestantes. ?Fui arrastada, levei chutes, bateram minha cabeça contra a parede. Foi tanta humilhação. O Astério disse que vinha conversar com a gente, mas mandou a polícia nos espancar?, contou Sandra, que chorava muito. Ela foi submetida a exame de corpo de delito. O secretário de Direitos Humanos, coronel Jorge da Silva, pediu pessoalmente desculpas às vítimas da Polícia Militar. ?Prometi que os responsáveis pelo excesso serão punidos disciplinar ou penalmente?, disse Silva. Astério também condenou a atitude dos PMs, que classificou de ?incompatível? com o treinamento dado à corporação. Os reféns libertados contaram que os momentos mais tensos da rebelião ocorreram logo que a fuga foi frustrada. Os reféns tiveram de formar um escudo em torno dos detentos. ?Eles diziam que se tivesse que morrer alguém seria um de nós?, disse o serralheiro Francisco da Costa, de 44 anos. Foram 54 reféns, que passaram os quatro dias sem água ou luz. Eles se revezavam a cada três horas para formar a barreira humana em torno dos presos. Os reféns contaram ter sido bem tratados, embora não pudessem olhar para os detentos. A rebelião deixou um morto e pelo menos nove feridos. Para ler mais sobre a rebelião em Bangu 3: » PM agride parentes de reféns de Bangu 3 »Médica acusa governo do Rio de protelar fim de rebelião »Rebelião em Bangu 3 entra no quarto dia » Rebelados de Bangu 3 estariam tentando cavar um túnel » Do lado de fora de Bangu 3, parentes esperam por notícias » No terceiro dia da rebelião, recomeçam as negociações » Mais um refém é libertado em Bangu 3 » Rebelados de Bangu 3 liberam apenas quatro reféns » Tensão cresce em Bangu. Reféns entram em desespero. » Situação em Bangu 3 é insuportável, dizem refém, pelo celular » Retomadas as negociações em Bangu 3 » Governo do Rio suspende negociações com presos de Bangu 3 » Presos não conseguirão fugir, diz secretário » Operadoras prometem bloquear celulares na área de Bangu

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