Rio estudar reduzir e até cortar fornecimento de água a 5 grandes indústrias

Objetivo é garantir abastecimento para a população; segundo técnicos do setor, empresas comprometem 15% da vazão de rio

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Por Felipe Werneck
Atualização:

RIO - O governo do Rio estuda reduzir ou até mesmo cortar o fornecimento de cinco grandes indústrias de Santa Cruz, na zona oeste da capital, para preservar o abastecimento humano, ameaçado pela crise hídrica que afeta a região sudeste. Além da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) e da Gerdau, citadas anteontem pelo secretário do Ambiente, André Corrêa, outras três integram a lista: Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC), da Petrobrás, Usina Termelétrica de Santa Cruz, de Furnas, e Casa da Moeda do Brasil.

"Vamos ter uma reunião com essas empresas na semana que vem. Acredito que uma medida extrema como o corte do fornecimento ainda não será necessária", disse Corrêa ao Estado. Juntas, as cinco indústrias comprometem cerca de 15% da vazão do Rio Guandu, que abastece a região metropolitana, segundo técnicos do setor hídrico. Elas não consomem toda essa quantidade, mas a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) alega que precisa levar para o canal de São Francisco, que deságua na Baía de Sepetiba, um volume maior que o necessário para a captação, com o objetivo de evitar a entrada de água do mar no canal, um problema frequente.

Governo quer evitar que população seja atingida por falta de água Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

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As opções para as empresas são dessalinizar água do mar, um processo caro, ou comprar água de reúso da Cedae, mas para isso seria necessário construir uma adutora. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) voltou a negar a hipótese de racionamento para a população, mas afirmou que "diversas empresas estão sendo alertadas há dois anos para fazerem novas captações e algumas obras por causa da estiagem". Na véspera, Corrêa havia declarado que "empresas que já deveriam ter feito o dever de casa podem ser prejudicadas".

O coordenador de segurança e meio ambiente da FCC, Abílio Faia, reconhece que o eventual corte "é um cenário bem real" por causa da crise, mas afirma que "o abacaxi não é só das empresas". "O plano da bacia do Guandu já tinha a indicação de solução com a construção de uma adutora, mas são 14 km de obras, com necessidade de desapropriação de terrenos, não é uma coisa simples que as empresas podem fazer sozinhas." Segundo ele, já houve redução do volume de água por conta da estiagem, o que aumentou a salinidade no ponto de captação.

Pela legislação, a Secretaria do Ambiente pode cassar a qualquer momento a autorização para captação. A Casa da Moeda informou que tomou recentemente duas medidas para economizar água, entre elas um sistema que reaproveita 95% da água da solução de limpeza usada em um dos processos de fabricação das cédulas de Real. A Gerdau alegou que "o pequeno volume de água captado pela usina não impacta a distribuição de água para consumo humano".

A CSA informou que reaproveita 96% da água utilizada em seu processo industrial e que o ponto de captação é o último do Guandu, "não impactando em nada o abastecimento para a população". A empresa acrescenta que "adotou um plano que reduziu em 20% a captação junto ao Canal do São Francisco". Furnas informou que está "estudando alternativas para o caso de redução da vazão da água do canal".

Pesquisa realizada pela Federação de Indústrias do Estado do Rio (Firjan) entre outubro e novembro mostra que 30,6% das 487 empresas ouvidas enfrentavam problemas por causa da escassez de água. "Se não enfrentarmos seriamente a questão do saneamento, buscarmos novas fontes e tecnologias e estimularmos a população e as empresas a economizar água, a região metropolitana pode enfrentar o mesmo problema atualmente vivido por São Paulo", disse Luis Augusto Azevedo, gerente de Meio Ambiente da Firjan.

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Na quarta-feira, 21, o nível do reservatório de Paraibuna, o maior dos quatro que abastecem o Rio, chegou a zero pela primeira vez desde 1978, quando foi inaugurado, e a captação avançou sobre o volume morto. Essa reserva de 2,1 trilhões de litros duraria cerca de seis meses, segundo Corrêa. Ele admitiu a possibilidade de racionamento se não chover o necessário nesse período. Apesar de afirmar que não há risco de racionamento, Pezão disse que estão sendo estudadas medidas de emergência como o aproveitamento para indústrias da água de reúso da estação de tratamento de esgoto da Alegria e o uso do reservatório da represa de Ribeirão das Lajes, em Piraí, que está sendo poupado e poderia abastecer a capital "por uns três meses".

O governador disse que vai "começar uma grande campanha para as pessoas não desperdiçarem água". Ele afastou a possibilidade de o governo adotar a proposta defendida por Corrêa de mudar o modelo de cobrança pelo uso da água, com desconto para quem consome menos e sobretaxa para quem consome mais. "Não é uma medida que vamos tomar este ano. Nesse momento não é necessário." / COLABORARAM MARIANA DURÃO E LUCIANA NUNES LEAL

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