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'Lá embaixo estão fazendo 1 grama de ouro por hora', diz garimpeiro sobre 'invasão' do Rio Madeira

Órgão estadual responsável pela gestão ambiental no Amazonas informou que tomou conhecimento das denúncias e fará 'um diagnóstico apurando a real situação no local'

Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA – Centenas de balsas de garimpo ilegal avançam há dois dias pelas águas do Rio Madeira, dentro do Estado do Amazonas, em busca de ouro. As movimentações de balsas enfileiradas foram confirmadas na região dos municípios de Autazes e Nova Olinda do Norte. As informações preliminares são de que há cerca de 640 balsas numa região do rio localizada a cerca de 120 quilômetros de Manaus, nesta terça-feira, 23.

Balsas ilegais na região de porto da Vila de Rosarinho, em Autazes (AM) Foto: Pedro Morais

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As balsas utilizam longas mangueiras, que são lançadas até o leito do rio. Acionadas por geradores, elas sugam a terra e tudo o que encontram no fundo. O material revolvido é trazido até a balsa e passa por uma esteira, onde é filtrado e devolvido de volta à água. Nesse processo, o ouro fica retido na esteira.

A corrida dos garimpeiros deve-se à notícia de que, na região, teriam encontrado uma grande quantidade do minério. Em um áudio obtido pela reportagem, um garimpeiro afirma que "lá embaixo estão fazendo 1 grama de ouro por hora".

A reportagem questionou o Ibama sobre o assunto. O órgão federal declarou que “teve ciência do caso” e que, “nesta terça-feira, 23, reuniu-se com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para alinhar as informações, a fim de tomar as devidas providências e coordenar uma fiscalização de garimpo na região”.

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), órgão estadual responsável pela gestão ambiental no Amazonas, informou que "tomou conhecimento das denúncias sobre a movimentação de dragas (balsas) de garimpo na região entre os municípios de Autazes e Nova Olinda do Norte, e que será feito um diagnóstico apurando a real situação no local".

"O Ipaam informa, também, que atividades de exploração mineral naquela região não estão licenciadas, portanto, se existindo de fato, são irregulares", declarou.

O órgão afirmou ainda que "há competência de órgãos federais na referida situação, considerando a Lei Federal Complementar 140/201, que trata sobre as ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas".

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O Instituto também declarou que, "em atividades como a citada, pode haver outras possíveis ilegalidades que devem ser investigadas, tais como: mão de obra escrava; tráfico; contrabando; problemas com a Capitania dos Portos. E, ainda, de ordem econômica, social e fiscal, o que requer o envolvimento de diversas forças para um enfrentamento efetivo do problema".

Segundo o Ipaam, está em andamento um plano para "realizar as devidas ações no âmbito de sua competência, integrado aos demais órgãos estaduais e federais".

Danicley Aguiar, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace que sobrevoou a região e flagrou centenas de balsas, se diz chocado com as imagens do crime organizado. “Enquanto o mundo está buscando um acordo para conter a crise climática, mais uma vez o Brasil manda um sinal trocado. A imagem de centenas balsas extraindo ouro ilegalmente nas imediações da maior cidade da Amazônia dão a dimensão do Vale Tudo para onde as ações e omissões do governo Bolsonaro nos levaram”, disse ao Estadão.