Rio põe barreiras acústicas na frente de favelas

Prefeitura alega que haverá fim de atropelamentos e arrastões; para ONU, trata-se de caso de preconceito

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Por Pedro Dantas - O Estado de S. Paulo
Atualização:

Em 7,6 km das Linhas Vermelha e Amarela haverá painéis, pagos por concessionária

 

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RIO - A prefeitura do Rio começou a instalação, nas Linhas Vermelha e Amarela - as principais vias expressas da capital fluminense -, das polêmicas barreiras acústicas que separam as favelas das pistas de alta velocidade. As placas de 3 metros de altura vão isolar as favelas e, de acordo com a cúpula da Segurança Pública, também diminuirão o número de arrastões nas duas vias. Oficialmente, a administração do município afirma que as barreiras protegerão os moradores de diversas comunidades da cidade do barulho dos carros e do risco de atropelamentos.

 

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Financiado pela concessionária Lamsa, o projeto de R$ 20 milhões cobrirá 7,6 quilômetros com estruturas de acrílico, placas de aço, muros de concreto e placas forradas com isopor. Cada um dos 200 módulos conta com 38 metros de comprimento e 3 metros de altura. O Complexo da Maré será isolado por 1.115 metros de barreiras na altura da Vila dos Pinheiros, e no Parque da Maré a proteção acústica terá 1.080 metros de placas de concreto armado e 220 metros de placas de acrílico, principalmente nos trechos residenciais. As barreiras também vão separar os moradores dos conjuntos habitacionais degradados da Cidade de Deus dos carros que trafegam na Linha Amarela.

 

O debate sobre muros começou no ano passado, com a instalação de eco-limites nas favelas da zona sul carioca, como Rocinha e Dona Marta. Após assumir a prefeitura da capital, Eduardo Paes (PMDB) anunciou a instalação das chamadas barreiras acústicas nas vias expressas.

 

Interpretadas como segregacionistas, as medidas foram criticadas na Organização das Nações Unidas, em maio do ano passado, durante a sabatina feita por peritos da entidade ao ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. "É uma construção para tornar invisível uma parte da cidade que não é tão maravilhosa. O discurso é de que se trata de revestimento acústico, mas o fato é que o prefeito até agora não investiu nessas áreas. Espero que com a barreira venham os postos de saúde e creches", disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).

 

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Apesar de garantir que a barreira é para proteger os moradores das favelas, a prefeitura do Rio solicitou uma contrapartida para a concessionária, que investirá em um Programa de Valorização de Territórios com atividades artísticas e esportivas para 16.500 pessoas e na formação de 160 líderes comunitários em desenvolvimento sustentável. Ironicamente, as barreiras são decoradas com desenhos de artistas locais que mostram as favelas integradas aos cartões-postais da cidade. A Assessoria de Comunicação do secretário municipal de Obras, Luiz Antônio Guaraná, informou que ele não poderia falar com o Estado ontem sobre as barreiras.

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