
13 de setembro de 2010 | 00h00
ENTREVISTA
Fernando Gabeira, candidato do PV ao governo do Rio de Janeiro
Por que o senhor é candidato ao governo do Rio?
Há vários desafios nesse processo. O primeiro é dirigir um Estado petroleiro e fazer a transição para um Estado produtor de conhecimento, voltado para Ciência, Tecnologia e Educação.. O segundo desafio é social. Na saúde, o atendimento nos hospitais é precário; nos transportes, vemos como as populações se deslocam com dificuldade; na segurança, há um trabalho propagandístico bem sucedido das UPPs, mas um abandono do Estado no conjunto.
O sr. deixou uma reeleição quase certa para enfrentar uma dura campanha. Arrepende-se?
Não. Em momento nenhum me arrependi. Em certos momentos históricos é melhor ser candidato do que desistir. Independente do resultado. Achava e continuo achando que o Rio, com a tradição democrática que tem, não poderia deixar de ter um candidato da oposição.
E há debate nessa eleição?
Ele (Cabral), se pudesse, não debateria nada. Iria para casa esperar o 3 de outubro. Mas a verdade é que tenho encontrado chances de debater. Minha campanha tem dois aspectos. O primeiro é desmontar a versão da propaganda oficial. O segundo é apresentar propostas.
Sua candidatura era apontada como meio para alavancar Marina e Serra no Rio. Os dois apresentam queda nas pesquisas. Ter o apoio de dois candidatos à Presidência atrapalha?
Absolutamente. Será que não é o meu desempenho que os atrapalha no Rio? Meu desempenho não é superior ao deles. O meu trabalho começa a ser mais percebido quando começa a propaganda na televisão. Eu espero poder ajudá-los, mas jamais vou pensar que eles me atrapalharam. Quem me atrapalha sou eu mesmo (risos).
O senhor tem entrado em favelas, deparando-se e até negociando com o tráfico sua presença... Não conversei com traficantes. Jamais. Sempre converso com associação de moradores. Às vezes, traficantes aparecem com a metralhadora apontada, me indicando que eu devo voltar. Aí, eu não converso, apenas volto. E há situações em que eles estão com a metralhadora apontada para o chão. Aí eu passo.
O senhor acha que as UPPs são a solução para o Rio?
Acho que são uma boa solução. Mas o que houve aqui no Rio é um equívoco na implantação. Você deve implantar a UPP associando ela a obras sociais e de infraestrutura. Aqui, eles implantaram em regiões onde perderam as eleições em 2008. Nos lugares onde há obras sociais e de infraestrutura não foram implantadas UPPs e houve uma coexistência com o tráfico.
Como o senhor acha que deve ser a preparação do Rio para a Olimpíada de 2016?
Barcelona, em 1992, utilizou os recursos e a transformação da cidade para se inserir no mundo de forma definitiva. A Olimpíada precisa nos deixar um legado para colocarmos todo o Estado do Rio como um centro turístico internacional.
O sr. se envolveu no episódio conhecido como "farra das passagens" e usou parte de sua verba indenizatória para contratar serviços prestados pela empresa de sua mulher. Sua imagem foi afetada?
Na primeira, eu devolvi o dinheiro da passagem e todos os créditos que eu tinha: R$ 84 mil. Ainda formulei as regras que levaram a Câmara dos Deputados a adotar um novo sistema que economiza R$ 32 milhões. No caso da contratação da empresa, ela não era minha esposa quando a contratei, em 2004. E, além disso, foi uma contratação para um site, que está no ar há mais de seis anos, custou R$ 20 mil, Eu não sou perfeito. Eu erro. Mas a diferença é que assumo o erro, declaro que errei e corrijo o rumo.
QUEM É
Fernando Gabeira (PV), 69, está no quarto mandato como deputado federal e tenta sua quarta eleição majoritária. Disputou o governo do Rio em 1986, a Presidência em 1989 e a prefeitura da capital em 2008 - quando perdeu por apenas 1,66%. Escritor e jornalista, participou da resistência armada ao regime militar e é um dos pioneiros da causa ambientalista no País. Casado com a atriz e jornalista Neila Tavares, é pai de duas filhas.
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