Rio Tietê pode voltar a ser hidrovia

Governo estuda usar o rio em anel hidroviário para transportar cargas

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O Rio Tietê, para o qual a cidade só olha quando transborda ou seu cheiro está pior que o normal, pode ganhar mais um respiro entre as 67 propostas já feitas em mais de 100 anos - e se tornar navegável. A ideia do governo do Estado é criar um hidroanel metropolitano, aproveitando a conexão entre o Tietê e o Rio Pinheiros, que serão ligados às Represas Billings e Taiaçupeba, na região de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. O objetivo é levar, pela água, toda a carga transportada - ou parte dela - o mais próximo possível do Porto de Santos ou de pontos de distribuição que se integrariam a outros sistemas, como o Rodoanel e o Ferroanel. Mais de uma área sentiria o impacto dessa nova forma de transportar carga - e talvez pessoas - na Região Metropolitana: enquanto o Tietê agoniza solitário em meio ao asfalto, 440 mil viagens são feitas diariamente pelas pistas da Marginal, contribuindo para o transporte de 1 bilhão de toneladas de carga por ano. Tirar tantos caminhões das ruas, segundo o Estado, beneficiaria o meio ambiente, melhoraria o trânsito e, por que não, faria a cidade voltar os olhos para o Tietê. "Se a população perceber que o rio pode oferecer benefícios, com certeza a fiscalização será maior", diz o engenheiro Frederico Bussinger, diretor do Departamento Hidroviário (DH), da Secretaria Estadual de Transportes. A ideia custaria R$ 2 bilhões e levaria ao menos 20 anos para ser concluída. "Não é um valor para assustar ninguém, essa obra traria muitos benefícios." Um terço da verba seria destinada apenas à construção de um canal de 25 quilômetros ligando as Represas Billings e Taiaçupeba. Mas o tempo, diz Bussinger, não é empecilho para o início da exploração da navegabilidade do rio no trecho urbano - hoje, o Tietê já conta com 41 quilômetros entre a Barragem da Penha, na zona leste, e a de Edgar de Souza, em Santana de Parnaíba. Neste momento, além da conclusão do projeto executivo para a construção de uma eclusa na Barragem da Penha, o DH está identificando grupos que poderiam usar o rio como meio de transporte. Além de empresas de construção civil, a Sabesp é cotada para usar esse tipo de alternativa - a ideia é que o lodo das estações de tratamento seja transportado em barcaças pelo Tietê. No Pinheiros, seria necessário rebaixar trechos da calha, como no Tietê. Na Billings, precisaria ser delimitado o percurso das embarcações. "Estamos só resgatando projetos que já foram feitos no passado." O engenheiro sabe que há muito chão pela frente para a obra deixar de ser apenas um sonho - e admite que é impossível realizá-la toda de uma vez. Mas diz que falta pouco para parte dela virar realidade. No século 20, o engenheiro americano Asa White Kenney Billings já previa essa finalidade para o rio - a carga passaria pelo Tietê, cruzaria o Pinheiros e chegaria a um grande reservatório. Do alto da serra, ela desceria a Santos por um teleférico. Quase cem anos depois, nenhuma parte do sonho dele virou obra de engenharia. Apenas seu nome foi usado para batizar a represa por onde esse hidroanel poderá passar.

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