Rivais também mostram muitas semelhanças

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Por Roldão Arruda
Atualização:

No encontro organizado pelo Estado, José Eduardo Dutra e Sérgio Guerra se esforçaram para expor as diferenças no ideário político e no estilo de agir entre PT e PSDB, os dois partidos mais influentes do País. Ao final de duas horas de debate, porém, era quase inevitável a sensação de que os dois são mais parecidos do que se supõe.Já na apresentação, o tucano e o petista se aproximaram ao lembrar sua presença na luta pela redemocratização. Os dois também manifestaram confiança na continuidade do amadurecimento democrático e declararam que são contrários ao radicalismo político. "O povo não é radical", disse o senador Guerra.Mais adiante reconheceram as fragilidades do sistema, especialmente a dificuldades das relações entre a Presidência e o Congresso - movidas por um sistema de trocas tão avassalador que leva o partido a votar contra suas próprias convicções. Ou, como admitiu o ex-senador Dutra, sem ser contestado, a agir de maneira "incoerente".A cada momento que um apontava uma falha no outro, ou reclamava para si alguma virtude, o outro tinha um contraponto à mão. Guerra acusou o governo petista por não ter feito a reforma política quando tinha força para isso, no início do primeiro mandato de Lula. E Guerra perguntou porque Fernando Henrique Cardoso não a fez.Quando o senador tucano insistiu em atacar o polêmico 3.º Programa Nacional de Direitos Humanos, apontando-o como símbolo de radicalismo e intolerância petista, Dutra respondeu que um dos principais defensores do programa é um velho aliado do PSDB e ex-integrante do governo Fernando Henrique, o cientista político e diplomata Paulo Sérgio Pinheiro.Os dois lembraram momentos de tensão no Congresso em que seus partidos se uniram para aprovar projetos de lei de interesse do País. "Eu era da oposição e e ajudei a aprovar o Fust", lembrou Dutra.Também recordaram que, quando necessário, foram buscar no território do adversário nomes para ocupar cargos no governo. O poderoso presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, era um quadro do tucanato quando o presidente Lula o chamou para ocupar o cargo - ocupado por ele até hoje. José Serra, quando ministro da Saúde, buscou no PT nomes para ocupar cargos na sua assessoria. (Não foi citado no debate, mas vale recordar que o bem sucedido programa de produção de remédios genéricos, implementado por Serra, surgiu de um projeto de lei do petista Eduardo Jorge, atualmente no PV.)No capítulo sobre política externa, o senador pernambucano acusou o governo Lula de se aproximar de governos totalitários, que menosprezam os direitos humanos, citando de maneira específica o caso de Cuba. O presidente do PT já estava com a resposta pronta: Fernando Henrique apoiou o terceiro mandato de Alberto Fujimori - presidente peruano que mais tarde seria condenado a vinte e cinco anos de prisão por atos de corrupção e violação de direitos humanos.Na área econômica, Dutra, que fez carreira sindical antes de dedicar à política, exaltou a forma como o governo Lula enfrentou a crise econômica que paralisou o mundo no ano passado. Seu oponente recordou que isso não teria sido possível se Fernando Henrique não tivesse modernizado o aparato do Estado. "Os fundamentos estavam lá atrás", disse.Foi um debate elegante, em tom respeitoso, durante o qual alguém poderia perguntar, com razão, porque PT e PSDB não conseguem se unir em torno de algumas propostas de grande interesse para o País, como a reforma política. Pode ser que alguém dia isso ocorra. Mas não vai ser agora, certamente. Como disse Dutra, o que vem por aí é uma eleição "muito dura, muito disputada".

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