Rixa política atrasa PAC do Samba

Verba de R$ 12 milhões prometida por Lula ainda não chegou por causa de disputa entre Cesar Maia e Petrobrás

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Por Marcia Vieira e RIO
Atualização:

O já milionário carnaval do Rio recebeu reforço de caixa este ano, mas uma disputa política está impedindo a liberação do dinheiro. Um mês depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter anunciado que daria R$ 12 milhões para serem divididos entre as 12 escolas do Grupo Especial, o comando das escolas ainda não recebeu nada da bolada, apelidada de PAC do Samba. "Está demorando, mas vem. O presidente Lula deu a palavra dele. Não pode mais voltar atrás", diz Nilo Figueiredo, presidente da Portela, que intermediou a negociação entre Lula e a poderosa Liesa, a Liga Independente das Escolas de Samba, que controla o carnaval do Rio. Dos R$ 12 milhões prometidos por Lula, metade seria dada pela Petrobrás e a outra metade pelas petroquímicas Unipar e Braskem. As empresas petroquímicas, colocadas na parede pelo presidente, não disseram nem sim nem não ao pedido. Mas a Petrobrás concordou em dar a sua parte, em troca de benefícios, como a colocação de publicidade na Passarela do Samba. Só que o prefeito Cesar Maia (DEM) ameaçou cancelar o contrato com a Liesa se as exigências da Petrobrás fossem aceitas. Na sexta-feira, o prefeito finalmente concordou com uma possível saída para o impasse. "A publicidade da Petrobrás pode ficar na área da concentração das escolas, fora do alcance das câmeras de televisão", diz o prefeito. Agora só falta a estatal aceitar ficar à margem da transmissão da festa. Apesar de o dinheiro do PAC do Samba não ter chegado, as escolas já estão gastando por conta. Quem quer disputar o título, tem de desembolsar em média R$ 6 milhões no desfile. A Beija-Flor, atual campeã, comandada pelo bicheiro Aniz Abraão David, não confirma, mas o que dizem nos barracões é que os gastos batem a casa dos R$ 8 milhões. "Deixa o povo falar. A gente sabe gastar o dinheiro que entra", desconversa Josué Júnior, que administra o carnaval da escola de Nilópolis. Oficialmente, cada escola do Grupo de Acesso recebe cerca de R$ 2,8 milhões da Liesa, arrecadados com venda de ingresso, direitos de imagem e publicidade, além de R$ 330 mil do governo do Estado e R$ 400 mil da prefeitura. Com esses R$ 3,5 milhões em caixa, as escolas correm atrás de patrocinadores. A Mangueira embolsou outros R$ 3 milhões doados pela prefeitura de Recife para cantar os 100 anos do frevo. A São Clemente e a Mocidade receberam, cada uma, R$ 2 milhões da prefeitura do Rio para homenagear os 200 anos da chegada da Família Real ao Rio. A Vila Isabel, que vai cantar os Trabalhadores do Brasil na avenida, diversificou. Criou cotas de patrocínio. Até agora HSBC e Ticket Restaurante aderiram. O valor das cotas, a escola não revela. E ainda tem o dinheiro arrecadado com ensaios. Antes das recentes acusações de ligação da escola com o tráfico de drogas, a quadra da Mangueira, a mais popular das agremiações do Rio, recebia em média 7 mil pessoas nos ensaios realizados aos sábados. O que representa um faturamento de R$ 150 mil, só com ingressos. Os maiores gastos das escola são com os carros alegóricos. As grandes levam oito carros para a avenida, ao custo de R$ 300 mil cada um. "Só para ter néon na águia (símbolo da escola) me cobraram R$ 50 mil", reclama o presidente da Portela, Nilo Figueiredo. O néon ainda é dúvida, mas não dá para economizar na roupa do mestre-sala e porta-bandeira (cerca de R$ 100 mil), da bateria (R$ 250 mil) e das baianas (outros R$ 250 mil). Os destaques e as madrinhas de bateria pagam suas próprias fantasias. Gracyanne Barbosa, da Mangueira, e Adriane Galisteu, da Unidos da Tijuca, vão gastar cerca de R$ 40 mil cada uma para que o estilista Carlinhos Barzellai faça suas roupas. "É muito caro, eu sei. Mas ele precisa usar muitas penas de faisão", justifica Gracyanne. Os profissionais contratados para fazer o carnaval também custam caro. O mais bem pago é o carnavalesco. O salário gira em torno de R$ 150 mil por ano. Depois vem o diretor de carnaval. Os tops ganham até R$ 100 mil por ano. A média salarial é de R$ 60 mil. CAIXA-PRETA Com tanto dinheiro envolvido e com as suspeitas de fraudes nos resultados em 2007, a vereadora Teresa Bergher (PSDB) apresentou projeto na Câmara para que a prefeitura volte a controlar toda a produção. "O carnaval do Rio é uma caixa-preta. Hoje o prefeito dá carta branca para a Liesa, e faz o que quer", afirmou Teresa. O projeto deve entrar em votação em março.

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