RJ: vila tombada pela prefeitura está abandonada

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Por Agencia Estado
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As primeiras casas erguidas no Brasil por um governante para atender à população de baixa renda estão sucumbindo à falta de manutenção. O abandono atinge dez blocos construídos na Avenida Salvador de Sá pelo prefeito Pereira Passos, em 1906, durante as obras de remodelação do centro do Rio. Apesar de a vila ter sido tombada pelo município em 1920, há pelo menos 30 anos a prefeitura não reforma os prédios: varandas ameaçam cair, há edifícios destelhados e o forro do teto foi destruído. Cem famílias ainda vivem no local algumas delas há quatro gerações. Na década de 80, os moradores ficaram livres de pagar o aluguel ao município. Em troca, deveriam realizar as obras necessárias nos imóveis. Poucos cumpriram o acordo. Desde 1994, a prefeitura promete realizar um amplo projeto de recuperação para o casario, que ainda não saiu do papel. A idéia de Pereira Passos era construir residências para os servidores municipais. "São casas históricas. É o registro da primeira experiência do Estado em prover habitação popular", diz o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Carlos Fernando de Andrade. Entre as curiosidades da vila está o sistema de numeração. O andar superior é contado como se fosse mais uma casa. "Eles não tinham noção de edifício", explica. O tom mostarda original das fachadas foi substituído por tinta cinza, que já descasca. O piso de muitas varandas ameaça ceder. O peitoril apodreceu. Num dos últimos blocos, a chuva destelhou o prédio. "O problema é o descaso do morador. Aqui já não é mais a mesma vizinhança, ela se descaracterizou muito", queixa-se a presidente da associação de moradores, Maria Naves Gomes, servidora pública. "Alguns nem são funcionários públicos, é uma bagunça só." A prefeitura tem um projeto de revitalização das Avenidas Mem de Sá e salvador de Sá e da Rua Estácio de Sá, que está em estudo pela desde 1994 e inclui a reforma da Vila Operária. A remodelação exige que os moradores saiam de suas casas. Eles se recusam. "Minha família já está aqui há quatro gerações. Não vou sair daqui de jeito nenhum", diz Osvaldo Ventura. Filho e neto de policiais militares, ele não é funcionário público. A prefeitura ainda não sabe o que vai fazer. As secretarias de Urbanismo e da Habitação informaram que ainda estão analisando os projetos da gestão anterior.

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