Rockers e mods: a volta das tribos esquecidas

Rixa entre adeptos de estilos dos anos 50 e 60 renasce em SP

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Por Rodrigo Brancatelli
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A rixa é antiga, se estende há uns bons 40 anos. ''''Não entendo muito essas jaquetas de couro, o cabelo, essa pose toda, a cara de mal'''', diz um rapaz que só veio nascer duas décadas depois de a briga começar, mas que não perde uma chance de cutucar o rival. ''''Pelo menos eu tenho atitude'''', responde outro garoto, ''''e não fico ouvindo essas coisas melosas ou me vestindo que nem mauricinho''''. Muito antes dos roqueiros da Galeria do Rock desprezarem os emos, dos punks discutirem com os skinheads e dos tropicalistas tripudiarem dos bossa-novistas, duas tribos musicais se engalfinhavam e disputavam qual dos seus gostos era de fato o melhor. Mods e rockers, anos 60 contra anos 50, The Who versus Elvis Presley, terninhos contra topetes. A tal rixa, que passou um pouco em branco na última década, está aos poucos renascendo nas ruas e baladas de São Paulo com o aparecimento de novas turmas de ''''modernos'''' e ''''roqueiros''''. ''''A disputa agora está sadia e divertida, é quase uma brincadeira'''', diz Rodrigo Artes, mod assumido de 17 anos e fã de carteirinha de bandas da década de 60 como The Who, The Beatles, The Kinks e outros tantos ''''The''''s. Mesmo sem ter idade para ter visto algum desses grupos ao vivo, o garoto tenta seguir a cartilha mod à risca - está sempre com roupas de brechó, botas inglesas e boina estilo alemã comprada sob medida no centro de São Paulo. ''''Não é tanto pela rixa, é mais pelo prazer de discutir música, falar sobre bandas antigas, ouvir canções desconhecidas do grande público. Tanto mods quanto rockers tem de se esforçar em dobro atualmente para conseguir ter acesso a essa bandas, então isso só fortalece os nosso gostos.'''' Como todo movimento juvenil, o modernismo da década de 60 - na abreviação, mod - juntou comportamento, bandas e uma estética bem peculiar. A primeira e mais importante lição: vestir-se impecavelmente bem, com terninhos, camisas Fred Perry e botas Clark Desert - ''''se manter elegante nas piores circunstâncias possíveis'''', diz um dos lemas mod. Andar de lambreta também contava valiosos pontos. Já a música bebia na fonte da música negra americana, como o R&B, o jazz e o soul dos selos Motown e Stax. QUERO SER ELVIS Tanto essa estética quanto sonoridade começaram a voltar à cena paulistana com a inauguração do Astronete Bar (Rua Matias Aires 183-B) e com as quintas-feiras mods do Vegas Club (Rua Augusta, 765). ''''Esses lugares viraram pontos de encontro para os novos mods, até então não havia balada para se encontrar'''', diz Artes. A reedição dos valores sessentistas também está ajudando a fomentar a rivalidade com outro grupo, os rockers. Na década de 60, os rockers eram o oposto completo de tudo aquilo que era cultuado pelos moderninhos - só andavam de jaquetas de couro, prezavam a liberdade típica dos motoqueiros e idolatravam seus topetes do mesmo jeito que amavam rock americano dos anos 50. Esse antagonismo chegou ao ápice em maio de 64, na praia de Brighton, Inglaterra, quando centenas de mods e rockers decidiram resolver a diferença na mão. O evento chegou até a ser retratado no filme Quadrophenia, baseado em um disco homônimo do The Who. ''''As brigas não existem mais, só uma tiração de sarro'''', diz o analista de sistemas Oscar Ribeiro Jr, de 27 anos, que parece mais um músico da banda de Elvis Presley. Amante dos Stray Cats e Little Richards - e, claro, do seu topete e das suas costeletas -, ele consegue encontrar outros rockers no The Clock Rock Bar (Rua Turiassú, 806), quase um museu dos anos 50. ''''O que tem mesmo entre rockers e mods é um sentimento bom de pertencer a uma turma.''''

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