Rodoanel: famílias criticam remoção

Moradores de São Bernardo reclamam que negociações sobre desapropriações não haviam sido encerradas

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Por Camilla Rigi
Atualização:

A casa do administrador Ivanildo Félix da Costa, no Jardim Santos Dumont, em São Bernardo do Campo, não tem mais janelas nem portas. O sobrado que ele construiu há 20 anos no local está no traçado do Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas e começou a ser demolido ontem. Assim como ele, outros três irmãos e dois vizinhos tiveram que deixar suas casas ontem por ordem judicial. O valor pago pela desapropriação foi depositado em juízo pela Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), mas, como a família não constituiu advogado anteriormente, ainda não recebeu o dinheiro. "Nós ainda estávamos esperando um novo acordo. A primeira proposta que nos apresentaram a metragem da casa estava 50% menor. Na segunda, não concordamos com o valor, mas um funcionário do jurídico da empresa disse que tentaria uma oferta melhor e falaria comigo", contou o irmão do administrador, Hélio Félix da Costa. Ele também teve que fazer a mudança. "Estou tentando alugar uma garagem para guardar os móveis, mas não sei para onde a família vai." REFORÇO A "comitiva" para iniciar a mudança chegou por volta de 8h30 ao Jardim Santos Dumont, próximo ao km 28 da Rodovia Anchieta. O oficial de Justiça estava acompanhado de quatro viaturas e seis motocicletas da Polícia Militar, além do advogado da Dersa - responsável pela obra. "Não somos animais. Sabíamos que tínhamos que sair daqui, mas eles nos enganaram dizendo que haveria negociação. Isso é uma humilhação", desabafou Zuleide Nakagawa. Cunhada do operador técnico Sílvio César dos Santos, Adriana não tinha para onde levar os quatro filhos. Ela foi aconselhada a levá-los para um abrigo. "Ainda não sei o que vamos fazer", disse Santos, que mora no mesmo que terreno em que a cunhada. Nenhum assistente social acompanhou a desocupação das sete casas. Segundo a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de São Bernardo do Campo, a Dersa não avisou previamente que retiraria naquele dia famílias da área, por isso não enviou ninguém. A Assessoria de Imprensa da Dersa afirmou que, em todos os casos que a desapropriação ocorreu ontem, foram esgotadas as negociações amigáveis e, por isso, o caso foi para a Justiça. Além disso, a assessoria informou que todos foram avisados com 30 dias de antecedência e que estavam cientes que não haveria mais negociação. Parte do valor estipulado em juízo, 80%, está disponível para ser sacado pelas famílias, com apoio de advogados. No total, são 28 imóveis no bairro. A maior parte deles já está desocupada. Restaram ainda cinco casas que os proprietários aceitaram o acordo com a Dersa e têm mais 30 dias para deixarem o local.

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