PUBLICIDADE

Saiba mais sobre as investigações do acidente da Gol

Investigações apontam que uma sucessão de falhas teria provocado a tragédia

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais de dois meses após o acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, que ocasionou a morte de 154 pessoas no dia 29 de setembro em Mato Grosso, as investigações continuam apontando para uma sucessão de falhas que teriam provocado a tragédia. Embora ainda não possam ser apontadas conclusões, é possível destacar procedimentos e condutas de pilotos do jato e de controladores, além de falhas em equipamentos, que podem ter contribuído para o acidente: Falha de comunicação em Brasília: A Aeronáutica admitiu pela primeira vez, no dia 21 de novembro, que "pode ter havido um erro" em uma informação de um controlador de vôo que estava encerrando seu turno de serviço, em Brasília, antes do acidente. A informação equivocada teria sido sobre a altitude do Legacy que, para o controlador, estaria a 36 mil pés, quando, na verdade, se verificou que estava a 37 mil pés, mesma altitude do Boeing da Gol. Quando notaram que o jato estava indo ao encontro do Boeing, os controladores tentaram entrar em contato por sete vezes com o jato, que tentou falar com o centro de controle por 13 vezes Problemas nos equipamentos e pontos cegos : A Aeronáutica apura se as dificuldades na comunicação teriam ocorrido por falhas nos equipamentos do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo de Brasília (Cindacta-1), não só nos rádios de freqüência, como nos próprios radares. Os controladores asseguram que o sistema apresenta muitas falhas e que há pontos cegos no controle aéreo na região onde ocorreu o acidente, mas a Aeronáutica nega a existência desses pontos. No dia 3 de dezembro reportagem do Fantástico, da Rede Globo, mostrou um vídeo apontando a existência de um ponto cego no local do acidente. A matéria mostrava um radar que monitorava dois aviões que sumiram repentinamente, após passarem por essa área sem cobertura. Porém, o ministro da Defesa Waldir Pires afirmou desconhecer a existência de ponto cego nas áreas de cobertura dos Cindactas. Transponder: A falta de funcionamento adequado do transponder - equipamento que emite sinais para os radares em terra e para outras aeronaves - é apontado nas investigações preliminares como um dos fatores determinantes para a colisão. As investigações concluíram que o aparelho estava desligado antes do choque e voltou a funcionar dez segundos depois, mas ainda não foi esclarecido se o equipamento falhou ou se foi desligado pelos pilotos e como teria voltado a funcionar. Com o aparelho inoperante, os controladores não tinham condições de determinar com exatidão a altitude em que o jato voava porque, neste caso, as informações detalhadas do vôo desaparecem da tela dos radares. Além disso, o funcionamento do sistema TCAS - utilizado para evitar colisão durante o vôo - teria sido prejudicado pelo não funcionamento do transponder. Torre de Controle: Um diálogo impreciso entre a torre de controle de São José dos Campos, local de onde partiu o jato, e os pilotos do Legacy, também pode ter contribuído para provocar o acidente. Ao autorizar a decolagem, o controlador usou o código "N600XL (prefixo do jato). Clear, 370, Manaus.", que indica vôo a 37 mil pés. Faltou dizer no fim da frase, "as filed" ou "according to flight plan", o que quer dizer que as informações do plano de vôo - que dizia que, ao chegar a Brasília, os pilotos deveriam ter baixado a altitude dos 37 mil para os 36 mil pés - deveriam ser seguidas. O piloto americano pode ter se confundido e entendido que poderia voar a 37 mil pés até Manaus. Plano de Vôo: Com a possibilidade de ter ocorrido esse mal-entendido na decolagem em São José dos Campos, os pilotos não teriam verificado se a ordem do controlador condizia com as informações do plano de vôo que previa três altitudes: 37 mil pés até Brasília; 36 mil pés entre a capital federal e o ponto Teres (ponto virtual da carta aeronáutica) e, a partir daí, 38 mil pés até Manaus. A confirmação de que a aeronave contrariou seu plano de vôo e se manteve a 37 mil pés da decolagem, em São José dos Campos, até o momento da colisão com o Boeing, foi feita a partir da leitura da caixa-preta do jato Legacy. Pilotos: A Aeronáutica ainda investiga se os pilotos americanos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Palladino, estavam bem familiarizados com o jato fabricado pela Embraer e se cumpriram o número de horas necessárias de treinamento para operar o equipamento. Segundo as investigações, os pilotos tiveram parcela de responsabilidade no acidente por não terem seguido o plano de vôo, nem adotado normas de emergência para evitar a colisão, como o funcionamento do transponder. Porém, eles garantiram que não desligaram o equipamento. Outros detalhes: Dados já analisados e divulgados das caixas-pretas do gravador de dados do Boeing da Gol revelaram que o piloto aplicou força ao manche nos instantes que antecederam à queda. Mesmo com sérias avarias na estrutura, os sistemas eletrônicos e mecânicos da aeronave não foram afetados pelo choque. Os peritos da Aeronáutica suspeitam que o winglet (aerofólio instalado na ponta da asa) do jato tenha cortado a extremidade da asa esquerda do avião da Gol. Com isso, estruturas metálicas ou mesmo peças arrancadas pelo choque a 1.800 km/h teriam danificado a fuselagem da aeronave, provocando a despressurização e, conseqüentemente, a queda da aeronave. A análise do cilindro de voz do Boeing já revelou que aparentemente não houve pânico entre os pilotos na hora do choque. Durante alguns segundos, o rádio ficou em silêncio. Em seguida o que se ouviu foi um forte ruído. Os peritos ainda não descartam a possibilidade de esse barulho ter encoberto diálogos na cabine do Boeing. Para tentar esclarecer essa dúvida, os técnicos da Aeronáutica deverão utilizar filtros eletrônicos na tentativa de remover os ruídos. Só após esse procedimento será possível afirmar se houve ou não uma conversa após a colisão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.