Salgueiro toca o tambor e chega ao 9º título

Com só 1 ponto perdido em 400 possíveis, agremiação do Andaraí leva título do carnaval carioca após 16 anos

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Por Alexandre Rodrigues , Clarissa Thomé , Marcia Vieira , Roberta Pennafort e Silvio Barsetti
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Como o rufar de um grande tambor, tema do enredo que levou o Salgueiro ao seu nono campeonato, a comemoração na pequena quadra da escola, no Andaraí, ecoou por toda a Tijuca, na zona norte do Rio. Dezesseis anos depois do histórico título de 1993, com o enredo Peguei um Ita no Norte, a comunidade salgueirense gritou novamente "é campeã". Numa vitória de ponta a ponta, do primeiro ao último quesito, o Salgueiro somou 399 pontos. A Beija-Flor (398) ficou em segundo lugar, seguida por Portela, Vila Isabel, Grande Rio e Mangueira. As seis voltam sábado ao sambódromo para o desfile das campeãs. No carnaval de 2010, a União da Ilha do Governador, vencedora do Grupo de Acesso, vai ocupar a vaga do Império Serrano, rebaixado. Fotos da comemoração do Salgueiro e Wallpaper Fundada em 1954, a partir da união entre Azul e Branco, Unidos do Salgueiro e Depois eu Digo, todas do Morro do Salgueiro, a escola manteve o tabu de que dificilmente a campeã carioca sai da primeira noite. Num desfile marcado pela irreverência, no fim da noite de segunda-feira, o Salgueiro lembrou os tambores pelo mundo - como zarb (árabe) e damaru (indiano), além dos chineses e japoneses. Fantasias e alegorias também mostravam o instrumento no folclore e nos festejos brasileiros. Apareceu ainda no rock, no Olodum e na Timbalada. Antes mesmo do veredito dos jurados, o público lotou a quadra, com capacidade para 6 mil pessoas, e recorreu ao refrão do samba de seu último campeonato para celebrar a nova conquista. "Explode coração, na maior felicidade, é lindo o meu Salgueiro, contagiando e sacudindo esta cidade" era o que cantavam os torcedores. Os componentes ainda comemoravam as notas abaixo de 10 da rival Beija-Flor com uma canção adaptada por torcidas de futebol. "Ninguém cala este chororô, chora o presidente, chora o Neguinho, chora a Beija-Flor", diziam, numa alusão ao presidente Lula. Com a confirmação da vitória, a quadra começou a receber os foliões. Para a festa, estavam preparadas 3 mil caixas de cerveja. A maior parte das pessoas chegava vestida de vermelho. Pouco antes do resultado, uma grande bandeira do Salgueiro encobriu parte do público na quadra. Quando o campeonato foi oficializado no telão, todos já cantavam o samba campeão, ao som da bateria, exaltada pelo apelido de "Furiosa". Por volta das 18 horas, mestre Marcão surgiu num camarote da quadra e foi muito aplaudido. Ele lembrou mestre Louro, que morreu no ano passado, como responsável pela tradição da bateria. A vitória do Salgueiro coroa ainda a carreira do carnavalesco Renato Lage, que ainda não tinha dado um campeonato à escola desde que veio da Mocidade Independente - que escapou do rebaixamento por 0,8, para tristeza da mulher de Lage, que caiu com o Império. A última vitória do carnavalesco no sambódromo foi em 1996, com enredo Criador e Criatura. "Quando vi a escola na Sapucaí, já imaginei que venceríamos", disse Lage, ao chegar à quadra, às 19 horas. "Mesmo sendo campeã, não podemos esquecer que a escola tem erros. Vamos começar a trabalhar para fazer o Salgueiro bicampeão", continuou. O carnavalesco disse ainda que a simplicidade do enredo criou empatia com o público. Para o intérprete Quinho, o título foi fruto da "garra" da comunidade. "Todo mundo cantava o samba durante os ensaios e essa energia foi levada para a avenida". Ele também puxou o samba campeão de 1993 e só não participou do desfile da escola por três anos. Na lista de sambas memoráveis do vermelho-e-branco podem ser incluídos os de 1960 (Quilombo dos Palmares), 1963 (Xica da Silva) e 1975 (As Minas do Rei Salomão) - com Joãosinho Trinta. DECEPÇÃO A alegria do Salgueiro contrastava com a decepção de dirigentes e torcedores da Beija-Flor. O presidente da agremiação, Farid Abraão David, jogou a toalha já com a perda de pontos no segundo quesito: enredo. "Acabou o carnaval. Tiraram a gente do páreo", disse, ao receber um 9,6, seguido de um 9,8. Já o intérprete Neguinho da Beija-Flor manteve o otimismo até o final. Anunciado o resultado, também reconheceu o mérito do campeões. "A disputa foi pau a pau. Nem tudo é vitória. Saber perder também é uma virtude."

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