Salões ignoram risco do uso de formol na escova progressiva

Depois da morte da dona de casa Maria Eni da Silva, que fez alisamento com formol em Goiás, salões de beleza estão na mira da Vigilância Sanitária

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Por Agencia Estado
Atualização:

Há pelo menos 20 mil salões de cabeleireiro na cidade de São Paulo e a grande maioria oferece escova progressiva para realizar o desejo das mulheres de ter cabelos lisos. Pesquisa feita pelo consultor Robson Trindade mostra que 89% das brasileiras que alisaram o cabelo usaram produtos à base de formol. A substância é usada por maus profissionais para deixar mais barato o processo de alisamento, colocando em risco a saúde das clientes. Pelo menos uma pessoa morreu em decorrência desse tratamento. E outros dois casos estão sendo investigados. Todas as ocorrências são de Goiás. Na capital, o problema é a conivência das clientes. Os maus profissionais não são denunciados, o que dificulta o trabalho de fiscalização da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa). ´Pelo número de cabeleireiros e a quantidade de mulheres que vemos nas ruas com os cabelos lisos, recebemos poucas denúncias´, diz Inês Romano, gerente de Produtos e Serviços da Covisa. Do ano passado até agora, a Covisa recebeu 63 denúncias contra salões, sendo 22 sobre uso de formol. ´As pessoas não têm idéia do mal que o procedimento faz à saúde.´ O formol, usado para evitar a decomposição de cadáveres, é altamente tóxico. Tanto que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite o seu uso em cosméticos apenas para conservação e num limite máximo de 0,2%. Nessa quantidade, o formol não tem cheiro, segundo a gerente da Covisa. ´Quando a cliente entrar no salão e sentir um cheiro forte ou aquela fumaça, com certeza é porque esse percentual está acima do limite.´ Aquecido pela alta temperatura da chapinha, o formol vira um gás que traz danos às vias respiratórias, boca e olhos. ´É um produto farmacêutico e não cosmético. É como se em vez de passar perfume, a gente tomasse´, afirmou Robson. A Organização Mundial de Saúde(OMS) considera a substância cancerígena. Quando é absorvido pelo organismo, por inalação ou exposição prolongada, pode causar câncer na boca, nas narinas, nos pulmões e na cabeça. A moda desses alisamentos começou há três anos. Como os produtos eram caros, maus profissionais passaram a improvisar misturando formol aos ingredientes. ´Com um gasto de R$ 30, é possível ganhar de R$ 3 a 4 mil, porque se faz muitas escovas rapidamente´, afirmou Robson. A reportagem do Jornal da Tarde ligou para um salão num bairro afastado da zona sul pedindo informações sobre escova progressiva. O dono disse que usa formol porque o ´Ministério Público´ já autorizou. ´ Tem menina que já está na quinta aplicação´, disse o cabeleireiro, que cobra entre R$ 160 a R$ 200 pelo serviço. Em alguns lugares, chega a R$ 1mil. Para denunciar, ligue para (11) 3350-6624 ou 3350 -6628. Tire suas dúvidas O presidente da Sociedade Brasileira para Estudo do Cabelo, Valcinir Bedin responde sobre as principais dúvidas sobre o uso da escola progressiva: Qualquer mulher pode fazer escova progressiva ? As restrições são as de sempre. Menores de 12 anos de idade não devem fazer de jeito nenhum, porque essas meninas ainda não têm a produção de hormônios que influenciam o cabelo. Se fizer antes dessa idade pode ter um prejuízo definitivo. A partir daí, pode-se fazer, sempre observando os cuidados para os casos que tenham restrição, do tipo doença do couro cabeludo ou alergia aos componentes, o que é mais sério ainda. As idosas podem fazer também, sem limites, mas o melhor é que as mulheres gostassem do cabelo que têm. Como a mulher percebe que o alisamento não deu certo? As reações imediatas de alergia são irritação nos olhos, secura no nariz e na boca e ardor ou inchaço na cabeça. Se tiver essas reações, a pessoa deve procurar ajuda médica. A longo prazo, não há problemas. O cabelo pode ficar mais frágil. E é importante que a pessoa saiba qual produto causou a reação alérgica, para evitá-lo. A longo prazo a escova progressiva pode trazer danos à mulher, mesmo que tenha sido feita de forma correta? Não há evidências desse fato. O cabelo pode ficar mais frágil, quebradiço, porque a escova mexe na estrutura capilar, mas pode-se fazer sem restrição. Os riscos 1) O uso do formol em cosméticos é permitido apenas nas funções de conservante (no limite máximo de 0,2%) e como agente endurecedor de unhas (limite máximo de 5%). Como alisante, o formol age destruindo as moléculas que dão forma aos fios de cabelo e por isso, provoca ressecamento. 2) O uso dessa solução em alisantes resulta em graves riscos à saúde como irritação, dor e queimadura na pele, ferimentos em vias respiratórias e danos irreversíveis aos olhos e ao cabelo. 3) O formol é considerado cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 4) O que deve ser observado no rótulo: o número do registro na Anvisa, o modo de uso, o prazo da validade, as advertências e restrições de uso. 5) Os alisantes capilares são registrados para uso comercial e/ou profissional, com concentrações e condições de uso diferenciadas. Quem não atuar na área, não deve adquirir um produto de uso profissional. 6) No salão, observe se o profissional é experiente; se o produto possui registro na Anvisa; E se a substância ativa que será utilizada não vai causar reação com produtos usados anteriormente no cabelo. Tenha certeza de que todas as etapas foram respeitadas e se o tempo de pausa foi obedecido. 7) Os alisantes registrados na Anvisa não têm formol na composição. A legislação brasileira aprova o uso de outras substâncias para alisamento capilar, como: ácido tioglicólico, hidróxido de sódio, hidróxido de lítio, carbonato de guanidina e hidróxido de cálcio. 8) Se perceber que o profissional vai usar formol, a cliente deve se recusar a fazer o tratamento e acionar o órgão de Vigilância Sanitária de sua cidade.

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