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São Paulo recebe uma São José dos Campos por dia

Por Agencia Estado
Atualização:

São Paulo recebe todo dia um contingente igual ao número de moradores de São José dos Campos. São mais de 668 mil pessoas que chegam à capital para trabalhar, estudar ou ambos e elevam a população de 15 a 65 anos em 9%. Ao mesmo tempo, 96 mil trabalhadores e estudantes deixam a cidade, em direção a outros municípios. A informação está numa compilação da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). O estudo de mais de 90 páginas, chamado São Paulo Outrora e Agora, foi a forma escolhida pelo órgão - herdeiro da Repartição de Estatística e Arquivo de São Paulo, criada em março de 1892 - para homenagear a cidade nos 450 anos. "Com as estatísticas, o povo se conhece melhor. É um instrumento de cidadania", observa a diretora-executiva da Seade, Felícia Reicher Madeira. A estatística explica cotidianos como o do engenheiro José Maria Garcia. Mineiro, chegou a São Paulo nos anos 1990, depois de trabalhar no Rio. Procurou apartamento - "a violência não deixa a gente morar em casa numa cidade grande" - na capital, mas acabou escolhendo um condomínio horizontal em Embu. "Numa família de quatro filhos, foi a melhor opção." Garcia percorre 25 quilômetros de casa até o trabalho, no Butantã. "Nas férias, levo menos de meia hora. O normal são uns 50 minutos", comenta. "Mas só dá para fazer isso de carro. Se fosse de transporte público, levaria mais tempo e o stress acabaria com as vantagens de morar num lugar tranqüilo e com área verde." Segundo a coordenadora da pesquisa, Bernadette Waldvogel, o dado faz parte de um estudo maior que a Seade está preparando sobre deslocamentos no Estado de São Paulo. Ainda faltam dados qualitativos, como a renda dessas 668 mil pessoas e a distância que percorrem. "Mas esse número já mostra o poder de atração de São Paulo, inclusive sobre outros centros metropolitanos." Pelo levantamento, a capital mantém taxas de desemprego menores do que a Grande São Paulo e renda média superior. Mais velhos O trabalho traz uma projeção inédita: São Paulo chegará a 2025 com 11,3 milhões de habitantes. O destaque é que o grupo etário com 50 anos ou mais vai dobrar em relação a 2000 e será o mais representativo, com 3,7 milhões de paulistanos. "Essas pessoas exigirão uma nova demanda de serviços, como saúde, previdência e lazer diferente dos jovens", explica Felícia Madeira. "O poder público deve, por exemplo, adotar políticas de prevenção de doenças, para que o gasto com saúde não suba demais." Viver hoje com mais de 50 anos em São Paulo não é fácil: há transporte inadequado, sistema de saúde precário, mercado de trabalho escasso. Se a pessoa morar num distrito periférico como Cidade Tiradentes, a exemplo de Manoel da Silva Tavares, de 57 anos, tem de se virar. Nos dias de calor, o pernambucano vai à porta de um supermercado vender geladinho a R$ 0,25. "Se não faz calor, fico em casa fazendo geladinho para vender depois." A única renda de Tavares é a pensão por motivo de saúde. Diabético, aprendeu a cuidar-se melhor depois de perder o dedão do pé direito. "Faço caminhadas ou exercícios em casa." Na falta de um lugar para um bom baile de forró, o jeito é passar o tempo livre vendo TV. "Aqui é bom de morar, mas falta lazer. Aí, fico em casa, fazer o quê?" Como outros distritos periféricos, Cidade Tiradentes tem população predominantemente jovem, ao contrário do que ocorre em áreas centrais, onde a melhor infra-estrutura se torna um atrativo para os mais velhos. Por isso, explicam as técnicas da Seade, é preciso usar os dados para planejar as políticas da cidade e não esperar as transformações, como tanto se fez nesses 450 anos. "Tudo que ocorre em São Paulo é paradigmático para o futuro urbano do País", salienta Felícia Madeira.

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