São Paulo tenta consolidar perfil de cidade de serviços

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

São Paulo, a maior cidade da América Latina, tem, entre seus maiores desafios, o de se consolidar como um centro de aprendizado, informação e consumo de alto valor agregado. Com 10,4 milhões de habitantes, o município brasileiro com maior orçamento ? são R$ 9,5 bilhões de receita previstos para 2002 ? deverá deixar de ser, cada vez mais, um centro industrial. Em substituição às perdas industriais, aparece a cidade dos serviços, do turismo, da excelência e da referência tecnológica e científica. A avaliação é consenso entre economistas e especialistas em transformações das grandes metrópoles e é um dos objetos de análise do professor de economia da Princeton University, o brasileiro José Alexandre Scheinkman. Estudioso das mudanças nas grandes metrópoles, ele prevê que todos os municípios que conseguirem se tornar centros de aprendizado, informação e consumo de alto valor agregado registrarão maior êxito econômico nos próximos anos. ?Vai ser impossível a cidade continuar como centro industrial simplesmente porque a indústria está perdendo peso no produto dos países avançados, em primeiro lugar, e as vantagens que uma cidade oferece para uma indústria estão diminuindo?, afirma. Para ele, a tendência é de que as metrópoles sejam centros de conhecimento humano. ?As cidades que atraírem indústrias, serviços financeiros e alto capital humano serão bem-sucedidas. É esse o caminho de São Paulo.? O economista Paul Singer, da Universidade de São Paulo (USP), tem a mesma opinião. Para ele, São Paulo está se tornando, a exemplo de outras grandes cidades do mundo, um pólo de atividades de serviços, o chamado ?pólo terciário?. Singer destaca que a cidade é um grande centro, não apenas financeiro, mas comercial. ?Os shoppings-centers são múltiplos, recebem um turismo de compras, não pequeno, assim como recebe um turismo de entretenimento?, diz. ?Essas são funções típicas de grandes metrópoles que São Paulo vai continuar tendo e ampliado?, acrescenta Singer. O economista da USP acredita que a cidade não vai recuperar as indústrias perdidas para outros Estados ou cidades do interior de São Paulo ? o município começou a sofrer perdas de indústrias ainda nos anos 80 - e sustenta que a atividade industrial ?não tem muita vantagem? de estar na capital paulista. ?A única vantagem é estar próxima a um grande mercado mas hoje os custos de transporte são menores.? Singer observa que a indústria, em todo o mundo, está se descentralizando. ?O terreno é muito caro nas grandes cidades. Uma fábrica vira facilmente um shopping-center, de grande ganho econômico para o dono do terreno, e a fábrica vai para um outro lugar, mais periférico, ou para uma cidade menor?, diz Singer. ?Esse é o fenômeno da grande transformação de São Paulo?, conclui. O secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, Márcio Pochmann, um dos maiores estudiosos da economia da cidade, comenta que o perfil de São Paulo vem sofrendo alterações desde que a capital paulista passou a se consolidar como centro de decisões. ?Embora algumas empresas tenham deixado a cidade, o centro de decisões, a diretoria delas continua aqui.? A análise de Pochmann é semelhante à da diretora titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Clarice Messer. Para ela, São Paulo cada vez mais deverá oferecer serviços. ?Esse movimento da cidade oferecendo mais serviços do que indústrias é uma tendência inexorável?, avalia, ressaltando, porém, que os serviços oferecidos são acoplados à indústria. A economista da Fiesp observa que, mesmo que perca indústrias para outras regiões, o município vai continuar sendo um centro corporativo, como é Nova York, por exemplo. Ela descarta, a curto prazo, uma ruptura desse processo ou mudança de perfil econômico da cidade. ?Com os atentados de 11 de setembro, São Paulo é considerada hoje um centro corporativo mais seguro do que Nova York. Às vezes, me pergunto se, de alguma maneira, a capital paulista não ganhou com o que aconteceu nos Estados Unidos, já que São Paulo é atualmente um centro relativamente mais seguro.? Embora tenha perdido indústrias ao longo dos últimos anos, o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Ruy Altenfelder, sai em defesa de São Paulo com base nos dados do governo paulista que apontam que 78,7% das indústrias da área de Tecnologia da Informação (TI) migraram e se estabilizaram na grande metrópole. ?É uma concentração notável dos novos serviços?, comemora, acrescentando que embora tenha havido perda de empresas para outros Estados as sedes das companhias se mantém aqui. ?O Estado, como um todo, teve seu perfil alterado. Antes essa transformação era apenas uma tendência. Agora, é realidade?, avalia. Altenfelder destaca ainda o crescimento das ocupações por conta das instituições financeiras. ?Os bancos estão entre os que mais crescem na nova economia. O maior empregador da metrópole é um banco (Bradesco)?, diz o secretário. Em relação às perdas de indústrias para outras cidades paulistas, Altenfelder não vê problema. Ele diz que a mudança é fruto da infra-estrutura oferecida. ?Temos uma ótima malha viária e que será ainda melhorada quando o Rodoanel estiver concluído. A logística de São Paulo é que tem acarretado essa descentralização, que é positiva?, sustenta o secretário. Ele ressalta ainda que a perda de indústrias sofrida se deu também em função de São Paulo não ter entrado na ?guerra fiscal?. Macrometrópole Para o secretário municipal de Planejamento Urbano, Jorge Wilheim, mesmo com a saída de indústrias do município, São Paulo continua sendo um centro industrial. ?As indústrias que deixaram a cidade foram para a macrometrópole.? A macrometrópole compreende as regiões metropolitanas de São Paulo, de Campinas, da Baixada Santista e parte do Vale do Paraíba e a região de Sorocaba. Wilheim destaca o aumento do número de serviços registrado na cidade, sobretudo por conta das indústrias gráfica e da moda. ?E a tendência é que esse quadro se fortaleça porque cada vez mais os empreendedores buscam locais onde há diversidade, vida cultural e isso você encontra em São Paulo, que é a mais brasileira das cidades?, argumenta. O secretário admite que problemas como insegurança, a desigualdade social e o complicado trânsito - que faz com que paulistanos enfrentem cerca de 118 quilômetros de congestionamentos por dia ? dificultam, mas não inviabilizam os negócios na cidade. ?Esses aspectos são negativos para qualquer habitante?, observa, acrescentando que a aprovação do Plano Diretor ? o projeto deve ser encaminhado à Câmara de Vereadores em março ? pretende, exatamente, dar uma nova diretriz urbana ao município. ?O plano pretende dar previsibilidade para a sociedade, para os agentes econômicos?, sustenta. Wilheim acredita que é preciso união das três esferas de poder ? municipal, estadual e federal ? para que parte dos problemas da cidade sejam sanados. ?É importante que os brasileiros maximizem seus elos?, defende ele. O secretário municipal de Planejamento Urbano conclui que ao longo dos próximos 20 anos a cidade vai entrar em uma nova fase de industrialização: indústrias de pequeno porte, com poucos empregados mas de grande valor agregado; maior desenvolvimento de pesquisas científicas e mudanças na atuação do movimento sindical. ?É difícil prever como se darão todas essas mudanças, mas o fato é que a cadeia produtiva já mudou e vai continuar mudando.? O futuro de São Paulo ninguém ao certo sabe prever, mas o secretário municipal de Finanças, João Sayad, resume um sentimento de grande parte dos paulistanos: ?São Paulo é uma cidade pobre e rica, desagradável e atraente.? São Paulo continua a ser a cidade do caos e do fascínio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.