A poucos metros do asfalto da BR-101, na margem oposta à Praia da Baleia, fica o aterro de São Sebastião. É uma área de 40 mil metros quadrados que recebe diariamente 200 toneladas de lixo de 36 praias. Tanta sujeira que em pouco mais de dois anos o espaço já seria pequeno para acumular os resíduos sólidos dos 62 mil habitantes fixos e 200 mil nas temporadas. Mas o município ganhou um tempo extra para se preocupar com essa questão. Um novo projeto já triplicou a vida útil do local e promete uma expansão ainda maior. Criado em 1985 como um lixão, com os resíduos dispostos a céu aberto e catadores disputando o espaço com as máquinas, o local foi motivo de inúmeras brigas com os moradores e veranistas porque exalava mau-cheiro e poluía duas praias da região. Nos dias chuvosos, o chorume contaminava o Rio Sahy e seguia até o mar. Para muitos, a solução seria remover o aterro de lá. Iniciado na administração anterior, o projeto de São Sebastião decidiu manter a operação no mesmo local. Mas inovou na tecnologia de cuidar do lixo. Os primeiros resultados já podem ser vistos por quem - sim, há pessoas que fazem isso - visitar o aterro. Os urubus, abundantes em qualquer depósito de lixo, já começam a procurar outras áreas. A tecnologia do aterro, ainda na sua fase inicial, é estrangeira. Em parceria com uma agência do governo alemão, a GTZ, São Sebastião importa a técnica da empresa também alemã Faber. Chamado de Tratamento Mecânico-Biológico, o sistema traz algumas diferenças em relação ao método convencional dos aterros. Primeiro, caminhões especiais rasgam os sacos de lixo para tornar a sujeira mais homogênea. Só assim, os resíduos podem ser mais facilmente decompostos. A matéria processada pelos caminhões é então disposta em montanhas de lixo recobertas com uma camada de 30 centímetros de cascas de árvores. Isso impede a aproximação dos urubus e acelera a degradação dos resíduos. Num aterro convencional, o processo de decomposição leva 20 anos; nesse sistema, 9 meses. Depois desse período, ele é removido para ser compactado e então levado para sua destinação final. "Se você não sente o cheiro e não vê o lixo, então não é um aterro", compara o secretário de Obras e Meio Ambiente, Wander Augusto. "Neste verão, teremos uma prova de fogo. Nossa meta é chegar a 100% de lixo tratado.", diz Prêmio - No início deste mês, a prefeitura de São Sebastião recebeu o Prêmio Quality Brasil por causa do projeto do aterro. Duas outras cidades brasileiras, seguindo São Sebastião, vão adotar tecnologia semelhante: Santo André e Blumenau. O acordo com a empresa alemã é rigoroso e levará 5 anos para ser concluído. A prefeitura deve ainda isolar a área, impermeabilizar o terreno, construir lagoas de decantação do chorume, valas de drenagem e fazer o controle do lençol freático. Quando tudo ficar pronto, o projeto prevê que o antigo lixão terá uma vida aumentada em 50 anos. "O fato é que ninguém quer um lixão perto de sua casa. Sabemos que o local não é 100% adequado, mas melhorou muito. Nesta época o cheiro podia ser sentido em qualquer ponto da praia", admite Anderson Poio, de 21 anos, diretor da Sociedade Amigos da Barra do Sahy.