Armadas de picaretas e pés-de-cabra, dezenas de pessoas arrombaram portas de aço e saquearam na madrugada desta terça o Supermercado Pomar, na Rua Antônio Carlos Mingue, no Barro Branco, em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. Os saqueadores levaram cerca de 100 litros de uísque, vodca e vermute, 100 caixas de cerveja em lata, além de vários quilos de carne, arroz, feijão, farinha e macarrão. Também furtaram um aparelho de fax, duas balanças eletrônicas, duas impressoras de balança e dois terminais de cartão de crédito. Boa parte das mercadorias foi levada em carrinhos de supermercado. Vizinhos alertaram a polícia e, à 1 hora, PMs do 28º Batalhão cercaram o quarteirão e detiveram 24 pessoas - 9 mulheres, 3 homens, 9 adolescentes e 3 crianças, entre 10 e 12 anos - que se encontravam no interior do estabelecimento. A dona de casa Maria das Neves Santos, viúva, de 43 anos, e seus seis filhos foram alguns dos detidos. Ao delegado Diogo Dias Zamut, de plantão no 54º Distrito Policial, de Cidade Tiradentes, ela disse que "está passando por dificuldade e sem alimentos em casa" e, por isso, quando soube do saque, foi até o supermercado para ver se conseguia alguma coisa. Para quem liga para o número de telefone que Maria forneceu à polícia, como sendo de sua casa na Rua Cachoeira Idalina, no Barro Branco, uma gravação informa: "Telefone fora de serviço". Como não foi encontrado nenhum produto em poder dos detidos e por haver suspeitas de furto famélico (causado pela fome), o delegado Zamut alegou não ter elementos para lavrar prisão em flagrante dos acusados. O sogro do proprietário do estabelecimento, que não quis revelar seu nome, estava revoltado. "Como roubaram para matar a fome? Se era para isso, porque levaram tanta bebida, balanças, fax e outros objetos?" Sua mulher, que com ele é dona de outro supermercado, na Avenida dos Gráficos, em frente ao 54º DP, também não se conformava. "A gente trabalha, dá um duro danado para ter alguma coisa na vida e vêm esses vândalos nos levar tudo." Para o delegado Luiz Carlos do Carmo, da 8ª Delegacia Seccional, não se trata de furto famélico. "Trata-se de um furto comum", disse. "Os saqueadores, além de bebidas e objetos, levaram produtos de beleza. Por isso, caso sejam condenados, poderão pegar de 1 a 4 anos." Preocupado com a possibilidade de que esse tipo de furto se torne rotina na região, Carmo participou das investigações à tarde. Ele admitiu, no entanto, que, até o momento, a polícia não achou nenhuma pista. "Estamos investigando e vamos descobrir seus autores." Carmo informou que as pessoas detidas serão ouvidas novamente para investigar como a ação foi organizada. "A região é tão pobre que é só verificar onde vai haevr um churrasco, regado com muita cerveja, para se descobrir os ladrões", disse, em tom de brincadeira, um investigador do 54º Distrito Policial.