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Saúde da periferia de Brasília é de quarto mundo

Por Agencia Estado
Atualização:

Embora o Distrito Federal seja o centro de decisões e tenha a maior renda per capita do País, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a periferia da capital federal tem índices de saúde de países de terceiro mundo. A constatação é de uma pesquisa de voluntários arregimentados pelo Laboratório Sabin, divulgada nesta semana, que revela um dado alarmante: 74% das crianças da periferia de Brasília sofrem de anemia, desnutrição e estão contaminadas por algum tipo de parasita. Até mesmo no Lago Sul, um dos bairros nobres da capital federal, 78% das crianças de uma creche - freqüentada por filhos de empregadas domésticas e trabalhadores que atuam na região - têm verminose. Na pesquisa foram examinadas 703 crianças de creches de 10 regiões da periferia do Distrito Federal. "A situação é de calamidade pública," reconhece a famacêutica-bioquímica Janete Vaz, que participou do levantamento. Segundo ela, o resultado da pesquisa revela que as crianças pobres de Brasília estão ameaçadas por "um mal invisível", que, se não for combatido a tempo, poderá levar dezenas de inocentes à morte. Para traçar o perfil epidemiológico das crianças, os voluntários do Laboratório Sabin coletaram sangue, fezes e urina de alunos de 11 creches. O resultado da amostragem será enviado ao governo do Distrito Federal para a adoção de medidas que possam reverter a situação. Neste mês, o laboratório iniciará levantamento idêntico em outras áreas próximas a Brasília. A pesquisa foi realizada nas cidades-satélites de São Sebastião, Samambaia, Taguatinga, Planaltina, Guará, Riacho Fundo, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Paranoá, no bairro Varjão e Lago Sul. As áreas pequisadas, com exceção do Lago Sul, são habitadas por famílias de baixo poder aquisitivo. Os números mostram que é no bairro Varjão - próximo ao Lago Norte, outra área nobre de Brasília - e na cidade-satélite de São Sebastião onde estão os casos de maior gravidade. No Varjão, onde a infra-estrutura básica é mínima, 91% das crianças apresentam parasitose e têm peso abaixo da média. Já em São Sebastião, 22% das crianças sofrem de anemia e 53% estão infectados por verminoses. Em Samambaia, maior cidade-satélite de Brasília, a situação não é diferente. Lá, 36% dos meninos e 50% das meninas têm baixo peso e ainda sofrem de anemia. "É uma situação delicadíssima", afirma a médica Luciane Naves, para quem o elevado índice de contaminação de crianças nos arredores de Brasília é resultado da falta de saneamento e do pouco cuidado com os hábitos de higiene básica.

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