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Saúde vira arma de campanha na disputa entre PT e PSDB

Criadas no Rio e adotadas pelo governo federal, as UPAs são defendidas por Dilma; para rebater, Serra usa as AMEs de SP

Por Wilson Tosta e Clarissa Thomé
Atualização:

Vice-campeã entre seis motivos de insatisfação dos eleitores brasileiros, de acordo com a última pesquisa Ibope, a saúde virou tema de confronto de siglas-símbolo de programas para o setor, brandidas pelos presidenciáveis do PT e do PSDB nas primeiras semanas de campanha. As Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) - que surgiram no Rio e foram adotadas pelo governo federal - viraram arma de campanha para a presidenciável petista Dilma Rousseff enfrentar os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME), implantados em São Paulo e defendidos pelo tucano José Serra. Depois que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, reconheceu que, de 500 UPAs prometidas, só 200 ficarão prontas até o fim do ano, as siglas ganharam mais destaque no noticiário. O debate sobre o tema, porém, já fora iniciado."O atendimento fica mais ágil, pois, em vez de se deslocar para o hospital, o paciente já tem atendimento na própria UPA", elogiou Dilma no início de agosto, durante visita ao Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. Duas semanas antes, em Paranavaí (PR), o tucano prometera criar, se eleito presidente, 154 AMEs. "Isso encurtará drasticamente o tempo de espera que hoje é de seis meses em média de uma consulta ou tratamento especializado."São estruturas diferentes: as UPAs se dedicam ao primeiro atendimento de emergências mais simples, enquanto as AMEs fazem consultas e exames. A preocupação expressa pelos dois primeiros colocados na corrida presidencial tem raízes na opinião pública. De acordo com a pesquisa Ibope realizada entre os dias 2 e 5 de agosto, 30% dos eleitores avaliam que, nos dois anos anteriores à sondagem, os serviços de saúde pioraram um pouco ou muito. O índice perdeu apenas para segurança pública (35%), líder nas reclamações do eleitorado, e superou impostos (28%), educação pública (21%), oportunidades de emprego (16%) e poder de compra ou consumo (9%)."A Dilma responde com a UPA ao que o Serra falou da AME", disse o vereador e médico Paulo Pinheiro (PPS). Apesar de aliado de Serra, ele tem críticas e elogios aos dois modelos - que, afirmou, são boas ferramentas, mas não podem substituir o sistema de saúde. O Rio tem 36 UPAs, cujo custeio mensal é de R$ 500 mil por unidade. A implantação sai a R$ 3,57 milhões cada, dos quais R$ 2,6 milhões são repassados pelo Ministério da Saúde. São Paulo tem 32 AMEs com custo mensal de R$ 870 mil por ambulatório.Críticas. Para Pinheiro, as UPAs surgiram de promessa de campanha do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) em 2006: os postos de saúde 24 horas. Nelas, há clínicos gerais, pediatras, pessoal de apoio e equipamentos. "Se moro em uma favela e meu irmão tem uma crise convulsiva, eu corro com ele para a UPA, onde lhe dão medicação. Acabou a crise, e agora? Mandam para casa. Mas ele pode ter tumor cerebral ou epilepsia. A UPA engana", disse o vereador, para quem os hospitais tradicionais "estão em petição de miséria". Ele também criticou a contratação de médicos sem concurso."Se alguém sofrer um acidente na Avenida Brasil (que liga o Centro à zona oeste), terá de ser levado para Saracuruna, na Baixada Fluminense, ou para Niterói, porque não há neurocirurgião em nenhum dos cinco hospitais estaduais ao longo da via." O secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, rebate as críticas. Ele diz que nenhum dos cinco hospitais estaduais tinha plantões completos com neurocirurgiões. A gestão atual implantou o sistema de ponto biométrico - evitando faltas - e concentrou essas cirurgias em três hospitais - inclusive o Getúlio Vargas, na Avenida Brasil. O número de neurocirurgias subiu de 320, em 2006, para 1.501, em 2009.De acordo com Côrtes, a UPA não foi criada para substituir a atenção básica, mas para desafogar emergências. "Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, caiu em 40% a procura em grandes hospitais. Agora, é preciso organizar o sistema. Em cidades como Teresópolis e Nova Friburgo, com boa atenção básica, a UPA só atende pequenas urgências. No Rio é que acontece de o paciente achar que UPA substitui o posto, o saúde da família, a unidade básica de saúde."O vereador Pinheiro faz restrições às AMEs, em razão da contratação de organizações sociais (privadas) para geri-las. O modelo já funciona no Rio, no Programa Saúde da Família, e deu margem a contratação de instituições com problemas com a Justiça. A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo ressaltou que o modelo de gestão criado no Estado foi copiado por 71 municípios, 14 Estados e inspirou o Ministério da Saúde. "Os hospitais não fazem licitação para comprar insumos ou medicamentos, mas adotam rígidos regulamentos de compras. Não realizam concurso público e sim seleção dos mais capazes", disse em nota.ComparaçãoSistema de saúde do Rio virou arma de campanha da petista Dilma Rousseff para enfrentar as AMEs do governo paulista36 Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), com custo de R$ 500 mil cada por mês, funcionam atualmente no Rio32 Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME), com custo de R$ 870 mil mensal, funcionam atualmente em São Paulo

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