'Se ela apoia os direitos humanos, vai me receber'

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Por Roberto Simon
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ENTREVISTA - Shirin Ebadi, advogada iraniana ganhadora do Nobel da PazA poucos dias de aterrissar no Brasil, Shirin Ebadi diz não ter perdido ainda as esperanças de ser recebida pela presidente Dilma Rousseff - por quem guarda "grande admiração e respeito". A advogada iraniana, ganhadora do Nobel da Paz de 2003, comemora o fato de o Brasil ter levado pela primeira uma mulher ao poder e pressiona: "Se Dilma defende os direitos humanos e as mulheres, sei que ela vai me receber".Shirin concedeu a entrevista ao Estado em farsi, através do Skype, de Londres. Em 2005, com a chegada de Mahmoud Ahmadinejad à presidência, ela viu-se obrigada a partir para o exílio. Entre as perguntas do repórter, a advogada iraniana disse ao tradutor várias vezes que teme por sua vida.O governo brasileiro afirmou que a presidente não vai recebê-la pessoalmente. Que resposta a senhora dá à essa recusa?Desejo e espero me encontrar pessoalmente com a presidente Dilma. Ainda tenho esperança de que isso ocorra. Guardo uma grande admiração e respeito por ela. Considero muito significativo o fato de Dilma ter sido a primeira mulher eleita presidente do Brasil. E é por isso que gostaria de me encontrar com ela. Quero, sobretudo, parabenizá-la por sua conquista.E se a presidente não mudar de ideia e continuar a evitar um encontro com a senhora, isso significará uma derrota?De jeito nenhum, não há derrota. Para mim, o aspecto mais importante da minha viagem ao Brasil é o encontro com grupos e pessoas organizadas que trabalham pelo bem-estar da população. Se Dilma defende os direitos humanos e os direitos das mulheres, sei que ela também vai me receber. A senhora parece indicar que não se contentará com um encontro com outras autoridades, como o assessor para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, ou o Ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota.Como disse, tenho respeito e admiração pela figura da presidente Dilma e quero falar com ela sobre vários temas, incluindo os direitos das mulheres. Mantenho minha esperança de que esse encontro possa ocorrera, apesar de tudo.Em março a senhora elogiou a mudança que Dilma promoveu em relação à promoção dos direitos humanos no mundo. Qual é o significado da recusa da presidente em recebê-la para esses novos rumos que a diplomacia brasileira parecia estar tomando?Essa é uma resposta que os próprios brasileiros devem dar. Não sou eu, iraniana, que vou respondê-la. Como vocês leem essa recusa de Dilma? Por que não dar continuidade à nova posição diplomática em relação aos direitos humanos?O governo iraniano acusa a senhora de trabalhar com EUA e "potências ocidentais" para afastar o Brasil do Irã.Eu vou a São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Rio para aumentar a amizade e aproximar os povos do Brasil e do Irã. É essa a razão principal de minha visita. Não tenho vínculo nenhum com os EUA. Peço aos brasileiros que leiam com atenção o discurso que pronunciei quando recebi o Prêmio Nobel da Paz, em 2003. Nele faço uma dura crítica aos EUA e aos países europeus - você pode achar a íntegra do texto em inglês no site do Prêmio Nobel. Essas informações divulgadas pelo governo iraniano são totalmente falsas, forjadas.O que os brasileiros podem fazer para ajudar na defesa dos direitos de iranianos perseguidos pelo governo?Pedimos somente uma coisa muito importante: escute o que o povo iraniano está dizendo e não as declarações oficiais do governo. É preciso entender realmente que tipo de tratamento os iranianos recebem de seu próprio governo e como estão descontentes com a atual situação em seu país.

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