Sem delegacia, cidade ''crime zero'' engrossa casos da vizinha

Números de Barra do Chapéu são registrados em Apiaí

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Por Redação
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Na estatística oficial, a pequena Barra do Chapéu, no sudoeste paulista, a 353 km da capital, parece um pedaço do céu na terra. É a primeira cidade do Estado no ranking da não violência, segundo levantamento da Secretaria da Segurança Pública: taxa zero de homicídios, roubos e furtos entre janeiro de 2008 e junho de 2009. Algo para se comemorar, não fosse um detalhe burocrático. Como Barra do Chapéu é a única cidade do Estado sem delegacia da Polícia Civil, os crimes que lá ocorrem são registrados - e contabilizados - na vizinha Apiaí. Os dois únicos homicídios lançados na estatística dessa cidade, de 27.621 habitantes, desde janeiro do ano passado ocorreram, na verdade, na pacata Barra do Chapéu, de 4.794 moradores. Os crimes tornam-se assunto obrigatório nas conversas de calçada. As amigas Maria José de Pontes, de 64 anos, e Emília Dias, de 75, têm os detalhes na ponta da língua. "Uma história escabrosa", conta Maria José. "O sobrinho matou o tio porque queria um dinheiro que ele tinha recebido." O homicídio ocorreu no bairro dos Beças, na zona rural, dia 6 de agosto. O rapaz está preso, ela diz. Emília ficou mais chocada com o assassinato de um jovem de 20 anos por um amigo da mesma idade, num bar, em maio. "Eles estavam bebendo, jogando sinuca e, quando saíram do bar, um deles enfiou a faca no outro." Apesar dos casos, os moradores consideram Barra do Chapéu tranquila. O artesão José Melo, de 55 anos, não se arrepende de ter trocado Guarulhos, na Grande São Paulo, pela cidadezinha. "Bandido profissional não vem para esses cafundós." Mesmo assim, a instalação da delegacia é uma das reivindicações da associação de moradores que ele preside. O prefeito Eduardo Fillietaz (PT) procura um imóvel para instalar a Polícia Civil. O prédio será alugado pelo governo estadual. A PM tem apenas um posto com seis policiais e duas viaturas. A transferência dos índices de criminalidade de Barra do Chapéu incomoda o prefeito de Apiaí, Emilson Couras da Silva (DEM), que já cobrou uma solução à secretaria. O diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior, Weldon da Costa, atribui a demora à dificuldade em conseguir um imóvel adequado.

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