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Sem praia, paulistano pratica ''surfe na corrente''

Novo esporte ganha adeptos em beco da Vila Madalena, na zona oeste; praticantes, meio malabaristas, querem organizar ?campeonato oficial?

Por Diego Zanchetta
Atualização:

O beco grafitado da Vila Madalena, epicentro da cena underground paulistana, a música Affiliation Revised, do DJ Hype, embala os jovens que se equilibram sobre a corrente suspensa a pouco mais de um metro e meio. A seriedade estampada no rosto de Carlos Evangelista, de 24 anos, destoa do clima de balada. Um a um, os "surfistas" emplacam grabs, kickflips e loopings, manobras do skate adaptadas à nova modalidade. Ao mesmo tempo, cerca de 30 jovens de 17 a 25 anos discutem a pontuação de ranking ainda oficioso. Galeria de fotos do surfe na Vila Se a piada diz que shopping center é a praia de paulistano, muitos encontraram agora a sua onda. Levado pouco a sério no início, o surfe na corrente já tem dezenas de adeptos e um encontro semanal na "orla" do bairro mais boêmio. Até um campeonato paulista já é planejado para 8 de setembro, e um abaixo-assinado pede à Prefeitura espaço para a modalidade. Hoje, em parques como o Água Branca, na zona oeste, ou em vias do centro como a Vieira de Carvalho e Largo do Arouche, é comum ver à noite jovens tentando se equilibrar em correntes na frente de estacionamentos ou hotéis. "Temos cansado de pregar que não se deve surfar na corrente dos outros. O esporte ficou associado ao vandalismo porque ainda tem jovens que insistem na prática ilegal. Aqui no beco a corrente é nossa", afirma Evangelista. A esperança dos praticantes do surfe na corrente é a de que a modalidade se dissemine como ocorreu com o francês le parkour (em português, algo como arte do deslocamento). Nesse esporte, hoje reconhecido na Europa e disseminado em São Paulo, os participantes ultrapassam obstáculos urbanos usando o corpo. "Todo mundo pensa sempre nisso. Se os franceses conseguiram emplacar o le parkour, por que não podemos ser pioneiros no surfe na corrente?", questiona Evangelista, organizador dos encontros às segundas-feiras na Vila. MALABARES Durante os encontros semanais, os "surfistas" também incrementaram as manobras com bolinhas e flare (uma tocha com fogo). "Mas isso é só para exibicionismo. Para a oficialização do esporte, e nos campeonatos, vamos estar limitados às manobras sem uso de equipamento", afirma o estudante de Arquitetura Renato Gonzales, de 23 anos, ex-skatista e surfista de "praia mesmo", como faz questão de ressaltar. "Mas até quando estou no Guarujá fico com vontade de pular em cima de uma corrente", brinca. Segundo relatos na internet sobre a modalidade - são 11 comunidades no Orkut com 788 participantes -, o surfe na corrente surgiu em 2001 na Ilha Porchat, em São Vicente, na Baixada. Já há registros de vídeos no You Tube de praticantes realizando manobras em parques e ruas de Brasília, Curitiba, Salvador e Porto Alegre. "Mas é na Baixada Santista que temos os registros dos primeiros vídeos com as pessoas em cima das correntes. Eram surfistas que à noite brincavam de se equilibrar em cima das correntes. Mas foi em São Paulo que o lance começou a se espalhar entre os skatistas", conta Saulo Castanho, de 25 anos, santista e praticante do surfe na corrente. INTERNET O encontro na Vila Madalena às segundas-feiras ocorre na Rua Belmiro Braga, a partir das 19h30. Os "surfistas" mantêm endereço na internet com vídeos e a história da prática (www.flogao.com.br/surfnacorrentesp). "Para skatistas e adeptos de esportes radicais, é interessante conhecer o início de um esporte que vai crescer e se espalhar pelo mundo", diz o confiante Evangelista.

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