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Senha de delegado ''limpava'' pontos

Esquema usava código de diretor do Ciretran de Osasco para transferir autuações para carteira de ?inocentes?

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

A Corregedoria do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) investiga um esquema criminoso de transferência de pontuação das carteiras de motoristas multados para outras, de inocentes, cujos números de CNHs foram usados para abrigar os pontos. A transferência só foi possível porque foi usada a senha do delegado Adriano Rodrigues Alves Caleiro, então diretor da Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Osasco e atual diretor da Divisão de Controle do Interior, responsável pela fiscalização de 334 Ciretrans em todo o Estado de São Paulo. O delegado afirma que sua senha foi usada indevidamente e disse que não tinha meios técnicos para, com agilidade necessária, controlar o histórico do uso de seu código pessoal. Por enquanto, sabe-se que a fraude beneficiou centenas de motoristas que tiveram os pontos retirados de suas CNHs. Muitos já foram ouvidos pela corregedoria e disseram que foram abordados por despachantes no Detran quando tentavam regularizar a carteira. É o caso de Luiz Omena. Ele contou que um homem se ofereceu, no 4º andar do Detran, para recorrer dos pontos em sua CNH. Outra favorecida, a bancária Ana Paula dos Santos, afirmou que pagou R$ 700 pelo que pensava ser o novo processo para a concessão de sua carta. Ela tinha a permissão para dirigir e recebeu três multas, o que lhe impedia de receber a CNH definitiva. Todos esses casos têm em comum o fato de que a ficha desses motoristas foi limpa por meio do uso da senha AD00000608, usada pelo delegado. Por enquanto, não se sabe o total de beneficiados pelo esquema, pois muitos pontos podem ter sido transferidos para CNHs cujos donos não as renovaram nos últimos anos e não perceberam o golpe. A fraude foi descoberta em 2004, mas nenhum funcionário da Ciretran de Osasco, nem mesmo o delegado, haviam sido ouvidos até agora pela corregedoria. A providência só foi tomada depois que delegada Maria Inês Trefiglio Valente assumiu o cargo há dois meses. Maria Inês foi nomeada para a corregedoria depois que integrantes do órgão foram flagrados achacando policiais corruptos da Ciretran de Ferraz de Vasconcelos, na Operação Carta Branca. A delegada retomou a sindicância. Ela começou depois que uma das vítimas que receberam os pontos em sua CNH procurou o Detran. Tratava-se de um policial do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O policial tinha pontos de 14 multas e não pôde renovar a CNH. O uso da senha do delegado foi descoberta porque toda transferência de pontos fica registrada no sistema da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo (Prodesp). Não é possível apagar a pontuação, mas ela pode, no entanto, ser transferida caso fique provado que houve falha no registro. Para tanto, é preciso fazer um processo. No caso de Osasco, não foi achado na Ciretran nenhum registro das transferências.

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