Seqüestrador tinha visto cubano no passaporte falso

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Por Agencia Estado
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A polícia encontrou um indício da passagem dos seqüestradores do publicitário Washington Olivetto por Cuba. O líder do grupo preso em Serra Negra, Maurício Hernández Norambuena, o Comandante Ramiro, segundo homem na hierarquia da Frente Patriótica Manuel Rodrigues (FPMR), possuía, em um dos dois passaportes falsos que carregava, um visto cubano. O documento foi apreendido pela polícia brasileira, e uma cópia foi entregue à polícia chilena. O governo da ilha sempre negou que tivesse hospedado ou apoiado integrantes da FPMR após o fim do ditadura do general Augusto Pinochet, no Chile, em 1990. Isso apesar de Juan Maco Gutierrez Fischman, El Chele, genro de Raúl Castro, o todo-poderoso irmão e provável sucessor do líder cubano Fidel Castro, pertencer à cúpula do grupo chileno. Norambuena foi preso no dia 1º de fevereiro em companhia de cinco outros seqüestradores - dois chilenos do Movimento Esquerda Revolucionária (MIR), uma argentina da FPMR e dois colombianos, provavelmente do Exército de Libertação Nacional (ELN) da Colômbia. O dinheiro do resgate de Olivetto serviria para financiar as atividades desses grupos. Além de uma identidade argentina, o Comandante Ramiro possuía dois passaportes, um deles argentino e outro chileno, ambos com nomes falsos - o grupo mantinha um imóvel em São Paulo, só para falsificar documentos. É no passaporte chileno que está o visto cubano. Além da passagem pela ilha estão registradas ainda visitas à Venezuela, à Argentina e uma entrada no Brasil na década de 90. A Argentina teria se transformado em base para a FPMR, onde o grupo supostamente mantém empresas para lavar o dinheiro de seqüestros. A Venezuela serviu de refúgio para pelo menos um dos membros da cúpula da frente. Mais crimes O visto cubano é de 1994, período em que Norambuena esteve preso no Chile. Apesar disso, os policiais acham significativa a presença do visto no documento. Para eles, alguém como Norambuena ou qualquer outro integrante do grupo jamais seria um simples turista, de férias na ilha. Já a entrada no Brasil tem a data de 2000. A importância dessa carimbo no passaporte é o fato de a polícia apurar se Norambuena e outros membros da FPMR e MIR cometeram mais crimes no Brasil. Norambuena admitiu aos policiais ter estado em Cuba em 1986 e, após sua fuga de helicóptero, em 1996, da prisão no Chile. O seqüestrador negou-se a depor oficialmente. A presença de membros da frente em Cuba criou uma crise diplomática entre Chile e o governo de Havana. O governo brasileiro ainda não se manifestou sobre o caso, apesar de a Polícia Federal estar acompanhando as investigações. As polícias brasileira e chilena acreditam ainda que outros suspeitos de participar do seqüestro de Olivetto possam estar ou terem estado em Cuba, como El Chele, Galvarino Sérgio Apablaza Guerra, o Comandante Salvador, e Raúl Julio Escobar Poblete, o Comandante Emílio - este último foi reconhecido fotograficamente por uma testemunha do caso. Assim, o grupo também teria usado a ilha como base de operações. A reportagem procurou na sexta-feira a embaixada cubana em Brasília, mas não obteve resposta sobre o suposto apoio do governo de Havana aos criminosos. As investigações da Divisão Anti-Seqüestro (Deas) estão, há uma semana, sob sigilo de Justiça, decretado pela juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 15.ª Vara Criminal. Assim, não é possível saber se os policiais brasileiros entraram em contato com a polícia de outros países para obter mais informações sobre os acusados. O diretor da Deas, delegado Wagner Giudice, diz que só apresentará o resultado das investigações à Justiça. Advogado Parentes do chilenos presos estão procurando advogados, mas ainda não conseguiram. Um advogado ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) os procurou, mas eles querem alguém que tenha defendido, no passado, presos políticos no Brasil.

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