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Seqüestro de microônibus Porto Alegre dura mais de 10 horas

Por Agencia Estado
Atualização:

O seqüestro de um microônibus, em Porto Alegre, fez os moradores da capital gaúcha reviverem nesta terça-feira o terror que cercou um incidente semelhante, que terminou em mortes, no Rio de Janeiro, no ano 2000. Armado, usando uma toca do tipo ninja e dizendo portar uma bomba um homem identificado como Paulo, de aproximadamente 30 anos, fez como reféns os oito passageiros e o motorista do microônibus Santana, prefixo 350, pouco antes das 9h00. Dez horas depois, apenas duas mulheres haviam sido libertadas pelo seqüestrador, que exigia R$ 500 mil e um helicóptero para a fuga ? pedidos negados pelos comandantes da Brigada Militar, a PM gaúcha. Negociações As negociações com o seqüestrador começaram por volta das 9h30, quando o microônibus ? com os pneus furados a tiros ? parou na Avenida Osvaldo Aranha, ao lado do Instituto de Educação e da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois de uma rápida perseguição policial pelas ruas do centro da cidade. Durante a manhã, especulou-se que Paulo teria entrado no lotação após uma tentativa frustrada de assalto a banco. De acordo com a versão do seqüestrador, entretanto, ele seria um desempregado, pai de dois filhos e planejava desde o início fazer reféns para obter dinheiro para ajudar a família. Eletrônica ?Fui em frente ao banco lá no centro porque, caso acontecesse alguma coisa, a explosão seria maior?, revelou Paulo ao repórter Carlos Wagner, do jornal Zero Hora, por telefone celular. ?Faz uns três meses, comecei a estudar eletrônica para fazer isso aqui?, disse o seqüestrador, referindo-se aos explosivos que garantia carregar. ?Não tenho nenhuma passagem (na polícia). Eu sou trabalhador, não sou vagabundo. Só fiz isso porque eu quero dinheiro e helicóptero para minha fuga. Estou me mantendo calmo, porque a bomba é programada para cinco segundos a partir da cargueta.? Perseguição A perseguição ao seqüestrador começou pouco antes das 9h00, quando o microônibus entrou propositadamente na contramão da Rua Uruguai, ao lado da prefeitura de Porto Alegre, e estacionou em frente à agência central do Banco do Brasil. Avisados pelos fiscais de trânsito, PMs chegaram rapidamente em três viaturas, e os policiais cercaram o veículo, dando início a um tiroteio. ?Um brigadiano se aproximou da lotação e ordenou que saíssem do veículo. Daí o seqüestrador abriu o vidro traseiro e deu um tiro para cima?, disse Humberto Bevilacqua, camelô que trabalhava na calçada em frente ao banco. Em seguida, o motorista colocou o microônibus novamente em movimento, e os policiais dispararam tiros contra os pneus. ?Foram em torno de 17 ou 18 tiros?, disse o camelô. Cercado Mesmo com os pneus furados, o veículo continuou trafegando lentamente pela Avenida Júlio de Castilhos, entrou no túnel da Conceição e chegou a Avenida Osvaldo Aranha, onde parou, sendo novamente cercado pelos policiais. Desde o início o seqüestrador manteve as cortinas do microônibus fechadas, e os reféns agachados. Inicialmente, as negociações foram feitas pela porta do veículo. No final da manhã, o seqüestrador concordou em receber um celular para comunicar-se com o tenente-coronel Rodolfo Pacheco, do Batalhão de Operações Especiais. Centenas de pessoas se aglomeraram durante todo o dia em volta dos cordões de isolamento. O comércio local manteve as portas fechadas, e o trânsito foi bloqueado nas proximidades da área. Aos poucos começaram a chegar pessoas dizendo-se parentes dos envolvidos. Um deles chegou a identificar-se como pai do seqüestrador. Refém liberada A primeira refém libertada, Ana Luiza Delfino Pires, de 65 anos, deixou o veículo às 12h10 e foi medicada em uma ambulância e encaminhada ao pronto-socorro. Ela foi libertada em troca da substituição de dois pneus furados do microônibus. No meio da tarde, Neli Leon Cessim, de 70 anos, foi libertada em troca do fornecimento de água. A exigência do seqüestrador de que a polícia fornecesse um helicóptero para a fuga e mais R$ 500 mil levou as negociações a um impasse. ?Essas reivindicações são de cinema?, afirmou o coronel Tarso Marcadella, comandante da BM. A estratégia do Batalhão de Operações Especiais, à frente das negociações, é levar o seqüestrador ao cansaço. ?O tempo é o nosso melhor aliado. Podemos ficar aqui até a semana que vem?, disse o coronel.

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