PUBLICIDADE

Serra perde queda de braço em novo comando do PSDB

Grupo de Aécio resiste e não entrega direção do ITV, instituto tucano, ao ex-governador, que agora vai presidir Conselho Político

Por Christiane Samarco , Edna Simão , Felipe Recondo e Marta Salomon
Atualização:

O ex-governador José Serra saiu ontem derrotado na briga interna pelo comando do PSDB e pela liderança na fila de pré-candidatos da legenda ao Planalto em 2014. No novo balanço de poder, definido ontem na convenção nacional do partido em Brasília, o grupo político do senador Aécio Neves (MG) ficou com o comando de postos-chave na máquina partidária. A saída para a disputa interna foi entregar a Serra a presidência do Conselho Político, apontado por muitos como prêmio de consolação. A decisão, confidenciaram tucanos, coloca Serra mais próximo da disputa pela Prefeitura de São Paulo.O deputado Sérgio Guerra (PE) segue na presidência da sigla. Para a primeira-vice foi escolhido o ex-governador Alberto Goldman, aliado de Serra. Aécio trabalhou e conseguiu manter na secretaria-geral o deputado Rodrigo de Castro (MG). Recuo. Depois de uma madrugada tensa de negociações, Serra acabou forçado a recuar da pretensão de presidir o Instituto Teotônio Vilela (ITV). O grupo ligado a Aécio não abriu mão de entregá-lo ao ex-senador Tasso Jereissati (CE). Para acomodar Serra e não expor o racha na convenção, os caciques do partido turbinaram o Conselho Político tucano e destinaram a presidência do colegiado a Serra. O novo conselho terá poderes para deliberar sobre alianças nacionais, fusões e incorporações partidárias, além de definir o processo de escolha dos candidatos a presidente e vice-presidente da República, quando solicitado pela Executiva Nacional. Mas Serra terá poder de mando limitado, porque nenhum grupo terá maioria no colegiado. Na lista dos seis conselheiros estão o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o próprio Aécio, representando o Congresso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como ex-candidato a presidente, e seu colega de Goiás, Marconi Perillo, representando os oito governadores do partido. Também terá lugar o presidente do PSDB. Razões. A queda de braço em torno do ITV, agora comandado por um aliado de Aécio, foi o pano de fundo da convenção que reelegeu Guerra ontem. A disputa antecipou 2014, em uma espécie de primeira etapa das prévias partidárias que irão escolher o candidato tucano à sucessão de Dilma Rousseff. O objeto real do duelo entre aecistas e serristas era o controle da estrutura partidária para a construção de uma candidatura presidencial. O ITV conta com um orçamento de R$ 10 milhões e o grupo de Aécio temia que Serra utilizasse a estrutura do instituto para pavimentar seu projeto de 2014.Com auditório cheio de convencionais, Aécio, Serra, Alckmin e FHC chegaram juntos ao evento, depois de quase três horas de reunião costurando o acordo para a formação do Conselho Político. "Brigamos muito até há pouco, é verdade; mas agora estamos aqui juntos", reconheceu FHC. "Nunca se precisou tanto de uma oposição forte e unida", disse, no mesmo diapasão, Geraldo Alckmin. O quarteto foi recepcionado por um coro que ora pedia um "tucano na Presidência", ora "Aécio presidente". No palanque, todos os discursos foram de união partidária. "Prevaleceu aqui o que o PSDB tem de sobra: espírito público", declarou Aécio, ao destacar que "o PSDB só tem condições de chegar lá (na Presidência) unido". Serra adotou o mesmo tom: "Nossa desunião fortalece o adversário, trai nossos princípios e esteriliza nossas ações". "As diferenças são normais, mas não podem falar mais alto do que a nossa união. Antes de ser oficial da política, sou soldado. E contem com esse soldado em qualquer momento", completou. Apesar da aparência de unidade, o racha foi exposto de forma clara e o risco de ruptura ficou iminente. Na noite de sexta-feira, o embate fez subir a temperatura da crise interna a tal ponto que as três maiores estrelas do PSDB de São Paulo - FHC, Alckmin e Serra - ameaçaram boicotar a convenção. Foi um alívio quando Serra desembarcou de madrugada de ontem na capital.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.