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Sertanejo-universitário vira moda

Mais alegre e sem dor-de-cotovelo, estilo conquista boates e gravadoras; adeptos têm entre 15 e 30 anos

Por Chico Siqueira
Atualização:

Foi-se a época em que traição amorosa era motivo de choradeira na música sertaneja. Com batidas pop e letras descompromissadas, a roupagem do momento é o sertanejo-universitário, estilo que abandona a dor-de-cotovelo, revela um novo perfil de fãs e coloca no passado o ''sertanejo-moderno'' de Chitãozinho & Xororó e Zezé Di Camargo & Luciano. Os adeptos do novo estilo são jovens de 15 a 30 anos que há pouco tempo criticavam música sertaneja. Encontrados tanto em baladas eletrônicas quanto em festas de axé, eles agora invadem casas noturnas e estádios atrás de shows das novas duplas. Neste mês, 30 mil pessoas foram à apresentação de Jorge e Mateus, em Goiânia, e 20 mil à de João Neto e Frederico, em São José do Rio Preto (SP). João Bosco e Vinicius, César Menotti e Fabiano, Victor e Léo são outros que embalam o público com o estilo lançado por Bruno e Marrone. ''A música sertaneja passa por uma transformação, com o surgimento de uma nova safra de artistas e um público mais jovem, que não quer saber de lamentos. Pode-se até falar de traição, mas de maneira mais descontraída. O que essa moçada quer mesmo é se divertir, com muita festa e bebida, assim como se divertem os universitários'', diz João Neto Nunes, da dupla João Neto e Frederico, de Goiânia, que já tem mais de 200 shows marcados pelo País. Em cidades do interior paulista, como São José do Rio Preto, Bauru e Ribeirão Preto, o novo estilo lota casas noturnas. Na quinta-feira, mais uma foi aberta em Araçatuba, a segunda neste mês. Já boates mais ecléticas passaram a dedicar um ou dois dias na semana ao novo estilo, dispensando o pagode. Em Rio Preto, a boate itinerante Badden esticou a permanência na cidade por causa da nova febre. ''Ficaremos um mês a mais; a lotação é certa'', diz o dono, Fábio de Faria. Segundo ele, enquanto o axé leva 900 pessoas por noite, o sertanejo-universitário atrai 1.400. ''Muitas de nossas músicas foram feitas quando a gente freqüentava a faculdade e ia às festas regadas a muita bebida e mulher bonita'', diz Frederico, autor das letras da dupla de irmãos que cursaram Agronomia e Veterinária na Universidade Federal de Goiás. ''Nossas músicas têm letras e cifras fáceis de guardar. A intenção é atingir todos os públicos, mas os jovens se identificaram. Daí colocaram esse rótulo (sertanejo-universitário), e não vamos recusá-lo'', diz João Neto. No último disco, a dupla usou o jargão do filme Tropa do Elite numa música: ''Não dá conta do recado, pede pra sair/ Se bebeu e ficou bravo, pede pra sair/ Se você levou o fora, bebe uma e quer dormir, meu amigo você tá fraco, pede pra sair.'' Embora simplória, a letra agrada. ''Hoje prefiro essas músicas. São alegres e não são feitas pra pensar. O único compromisso é com diversão'', diz a universitária Ana Cláudia Caiel. ''Essa música é diferente das outras sertanejas. É jovem, dá vontade de dançar e até as românticas são para cima. Esse negócio de música de fossa já era'', comentam as amigas Maria Fernanda Teixeira, Beatriz Lopes e Paula Chioca.

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