Setor aéreo é ''''cachorro que tem muitos donos'''', afirma Lula

Presidente diz que não sabia da crise aérea, repetindo o argumento usado durante o escândalo do mensalão

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Por Leonencio Nossa
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Dez meses depois da queda do Boeing da Gol (154 mortes) e duas semanas após a explosão do Airbus da TAM (199 mortes), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem a aliados que não sabia dos problemas no setor aéreo. Em reunião do Conselho Político do governo, que reúne 11 partidos da base, no Planalto, ele se queixou do excesso de órgãos públicos para planejar e controlar a aviação e comparou a situação à de um ''''cachorro'''' com ''''muitos donos''''. ''''Cachorro que tem muitos donos morre de fome porque ninguém cuida'''', disse Lula, segundo relatos de vários participantes da reunião do conselho político. O presidente se mostrou surpreso com o desenrolar da crise, que, afirmou, se revelou ''''um problemão''''. Lula disse, ainda, que só tomou conhecimento da situação no setor aos poucos, a partir da colisão entre o avião da Gol e o jato Legacy, em setembro. ''''Todo o sistema está com metástase, mas o paciente não sabia, e precisamos resolver.'''' Mais tarde, num encontro com três parentes de vítimas do acidente da TAM, no Planalto, Lula jogou para o passado remoto a origem do problema: disse que a crise começou há uns 60 anos. Na reunião do conselho político, o presidente afirmou que a questão aérea jamais esteve no centro do debate eleitoral e a opinião pública nunca tinha sido confrontada com ela. ''''Em cinco eleições que disputei para a Presidência isso não foi debatido.'''' Deixou claro, mais uma vez, que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tem ''''carta branca'''' para fazer as mudanças necessárias e acabar com a burocracia. Jobim deve se reunir com o conselho político dentro de duas semanas para fazer um balanço das primeiras medidas que tomou à frente do cargo. Ao citar o Ministério da Defesa, o presidente fez outra queixa: de que a pasta nunca foi estruturada adequadamente. Segundo relatos de parlamentares ao Estado, Lula disse que o ministério só cuida de fronteira e segurança nacional e está mal aparelhado para atacar os problemas da aviação. Nas crises ocorridas desde o primeiro mandato - como a do mensalão e a do cerco da Polícia Federal ao seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá -, o presidente também se defendeu com o argumento de que não sabia do que estava ocorrendo. Desta vez, jogou a culpa nos governos anteriores. ''''O problema de gestão vem de muito tempo.'''' No fim da tarde, Lula avisou ao governador Sérgio Cabral (PMDB), com quem se encontrou, informar que vai ao Rio para anunciar investimento de R$ 150 milhões no Aeroporto Tom Jobim (Galeão). A visita deve ocorrer no dia 20. Na sua última ida à cidade, no dia 13, o presidente recebeu vaias, na abertura dos Jogos Pan-Americanos. O dinheiro para o Galeão já estava previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 22 de janeiro. OS ''''DONOS DO SETOR'''' Ministério da Defesa: comanda as Forças Armadas, incluindo a Aeronáutica Comando da Aeronáutica: responsável pelo controle do tráfego aéreo e investigação de acidentes Agência Nacional de Aviação Civil (Anac): em tese, cuida da qualidade dos serviços das companhias, regula o mercado e gerencia a malha aérea Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Portuária (Infraero): estatal que administra 66 aeroportos e 32 terminais de carga Centro de Gerenciamento de Navegação Aérea (CGNA): composto por Aeronáutica, Anac e companhias aéreas, define a distribuição de vôos e o fluxo do tráfego aéreo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea): cuida do planejamento, regulamentação, cumprimento de regras internacionais para controle do espaço aéreo, e pela operação e manutenção da infra-estrutura de comunicação e navegação aérea. É responsável pelos Cindactas Conselho de Aviação Civil (Conac): órgão de assessoramento da Presidência da República, que estabelece as grandes diretrizes do setor e planos de longo prazo

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