Setor de transporte público pede investimentos urgentes

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Por Agencia Estado
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O estudo da Associação Nacional de Transportes Públicos prevê que se não houver investimentos rápidos no transporte público, nos próximos dez anos os congestionamentos estarão duas vezes maiores, aumentarão os acidentes e a poluição nas grandes cidades. "É a teoria do caos anunciado", disse o presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio de Janeiro (Rio-ônibus), Lelis Marcos Teixeira. De acordo com Teixeira, projeções apontam que nos próximos 10 anos o número de carros no País deve atingir 30 milhões e a população crescerá para 200 milhões. "Com o aumento de carros e da população, se continuarem as mesmas medidas, esse tempo que se perde no trânsito vai dobrar com facilidade", prevê Teixeira. No estudo elaborado pela a ANTP, São Paulo e Rio foram estão entre as metrópoles que mais perderam passageiros nesses últimos anos. De acordo com dados do diretor adjunto da ANTP, Eduardo Vanconcellos, São Paulo transportava 10 milhões de passageiros por dia e, hoje, transporta apenas 8,5 milhões. Já o Rio transportava 4 milhões de passageiros por dia e hoje carrega apenas 2,5 milhões. "Muitos passageiros passaram a viajar a pé, muitos passaram a usar o carro, que ocupa muito mais espaço na via que o ônibus, que transporta um maior número de pessoas", afirmou o técnico. "É importante qualificar o transporte coletivo se não as cidades param." O secretário municipal dos Transportes, Carlos Zarattini, disse hoje que o transporte de São Paulo é "historicamente de má-qualidade", mas ressaltou que a queda de passageiros não está ligado apenas isso. "Tem também uma crise social que vem aumentando o número de desempregados e reduzindo o poder aquisitivo", disse o secretário. Para ele, o problema só será resolvido com uma grande integração e rede de apoios ao transporte coletivo, caso contrário, o transporte não atingirá a qualidade que necessita. "O transporte pode ser melhorado, mas não vai atingir uma qualidade necessária para uma cidade do porte de São Paulo." O sistema de transporte público no País perdeu, entre 1994 e 2001, 25% de seus passageiros para, em sua maioria, o transporte ilegal. O grande motivo, de acordo técnicos da área, é a falta de investimento no setor, que se tornou caro, ineficiente, de baixa qualidade e está concentrado na mãos de poucos empresários. O levantamento foi realizado nas oito maiores capitais e apresentado no seminário O futuro do transporte público e do trânsito no Brasil, no Centro de Exposições Imigrantes. Mesmo registrando queda ano a ano, o transporte público urbano metropolitano (ônibus, trem e metrô) arrecada R$ 15 bilhões em todo o País. De acordo com o levantamento, os 115 mil ônibus que existem deixaram de transportar nesses anos 16 milhões de pessoas. O número de passageiros caiu de cerca de 75 milhões para 59 milhões de pessoas transportadas por dia. "O nosso grande desafio é tirar o transporte público dessa crise e dar uma qualidade muito superior do que a atual", disse Vasconcellos. De acordo com o levantamento, 63% das grandes cidades com mais de 300 mil habitantes têm transporte ilegal. Outro fator, ainda de acordo com o estudo, que contribuiu para a queda de passageiros transportados foi o aumento das tarifas em níveis superiores que os da inflação, e a prioridade dada pelos governos aos automóveis, que são individuais, além da falta de aplicação de recursos no transporte público. Com isso, sugere o levantamento, cai a demanda e, proporcionalmente, aumentam os custos operacionais com o sistema. "Com a queda da demanda do transporte público, o aumento do congestionamento, o custo aumentou, a tarifa subiu", avalia Vasconcellos. "Isso exclui os mais pobres e os que não têm vale transporte. O passageiro ou está a pé ou desistiu de fazer a viagem, ou seja, ela teve a mobilidade tolhida. Isso é muito grave." O estudo da ANTP aponta que a grande maioria, cerca de 50%, migrou para o transporte clandestino, uma outra parcela faz os seus percursos a pé ou usa carro, e o restante não usa nenhum tipo de transporte. As propostas da ANTP e as opiniões dos especialistas que estão presentes no seminário serão consolidadas em um único documento que será enviado a todos os partidos políticos e suas prefeituras espalhadas pelo País. Resultados Para a ANTP, os empresários têm que mudar de postura e tratar os passageiros de ônibus como clientes, diversificando os seus serviços. "Nessa evolução do sistema de ônibus no Brasil se formaram pequenos grupos muito poderosos com grau de concentração de capital muito elevado", afirmou Vasconcellos. Amanhã os técnicos da ANTP estarão reunidos com técnicos americanos e europeus. O objetivo é saber como interferir nesse pequeno grupo que comanda o transporte de ônibus. "Isso envolve técnicas de licitação e regulamentação de transporte que podem ser mais abertas e, com isso, injetar gente nova no mercado." Além disso, a associação ainda sugere que um dos principais pontos para resgatar o passageiro é a diminuição da tarifa, restringir o uso inadequado de automóveis e a criação de serviços especiais para o transporte público. Para o presidente do Grupo Executivo de Gestão de Transporte Coletivo da Região Metropolitana de Goiânia, José Carlos Xavier Grafite, o modelo de transporte público praticado em São Paulo e grandes capitais é enrijecido e não se adequou às necessidades da população. "O transporte no País teve seu aumento de passageiros na década de 60 e 70. Na década de 80, esses números começaram a cair aos poucos e as empresas não fizeram investimentos tecnológicos", afirmou o técnico em transporte. De acordo com Grafite, em Goiânia uma parceria entre o Estado, Goiânia e as prefeituras da região possibilitou melhorias no transporte público. "Você trata a sua rede como uma só. Isso facilita muito o gerenciamento e a engenharia das linhas", disse. De acordo com o secretário Carlos Zarattini, a Prefeitura de São Paulo tentou fazer um convênio semelhante com o governo do Estado, mas a proposta não foi bem recebida, segundo o secretário, pelo governo estadual.

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