Sinal de toque de recolher é rajada de metralhadora

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Por Agencia Estado
Atualização:

Moradores de Vila Kennedy e Senador Camará, na zona oeste do Rio, obedecem a um toque de recolher imposto pelos traficantes há pelo menos uma semana. Rajadas de metralhadoras são o sinal para que ninguém circule pelas ruas a partir das 21 horas. A imposição dos traficantes modificou a rotina de escolas da região e espalhou o medo entre moradores que chegam do trabalho mais tarde. O comandante-geral da Polícia Militar do RJ, coronel Wilton Ribeiro, determinou que a polícia ocupasse os bairros. "Eu tomei conhecimento dessa situação na última sexta-feira. Nós não compactuamos com isso e estamos tomando providências", afirmou. O toque de recolher começou há uma semana, quando se intensificaram confrontos entre quadrilhas rivais. O incidente mais grave ocorreu durante um baile na praça de Vila Kennedy, sábado retrasado. Um grupo de homens da favela Vila Aliança (em Senador Camará) atirou a esmo na festa. Houve pânico e correria, mas ninguém ficou ferido. Desde então, os bailes foram suspensos, e os moradores voltam para casa mais cedo. "Parece que o tiroteio tem hora marcada, começa sempre à uma e meia da madrugada. Mas às sete horas as ruas já estão vazias, e às nove da noite é o toque de recolher", contou um morador. "À noite a gente só vê as balas traçantes no céu", disse um estudante. Uma secretária contou que a mãe trabalha na Escola Municipal Jorge Zarur, onde o turno da noite está suspenso. "Eles avisaram que não era para ninguém ficar na escola depois das oito horas. Os professores nem vêm trabalhar", disse. Ela diz que está acostumada ao tiroteio. "A gente só tem medo de bala perdida, né?" Vila Kennedy e Senador Camará estão divididos por um morro. De acordo com informações do serviço reservado do 14º Batalhão (Bangu), traficantes de Senador Camará - ligados ao Terceiro Comando e liderados por Gordinho - tentam dominar o tráfico em Vila Kennedy - chefiado por Marcelo Pezão, do Comando Vermelho. "Dificilmente a coisa é organizada", acredita o coronel Wilton Ribeiro. "São jovens com armas na mão, que estão iniciando carreira criminosa e querem demonstrar para a comunidade uma força que eles não têm." Ele determinou que os bairros fossem ocupados, mas nesta terça-feira somente um carro da polícia circulava nas ruas. O coronel Carlos Carrijo, comandante do 14º BPM, informou que as ações maiores ocorrem durante à noite. "No momento de maior necessidade, tem polícia a dar com pau. De manhã é uma tranqüilidade", afirmou. Os moradores desmentem: "Às sete horas da noite não tem morador nem polícia na rua. Se tem, tá escondido", disse um perueiro.

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