PUBLICIDADE

Sindicato aconselha pilotos a não voar

Solicitação ocorre após evidência de falhas no voo 447 da Air France

Por Andrei Netto
Atualização:

Um dos sindicatos de pilotos da Air France, o Alta, aconselhou os filiados a não voarem em modelos Airbus A330 e A340 até que a companhia realize a substituição de ao menos dois dos três tubos de pitot - o sistema que afere a velocidade dos aviões. O pedido foi feito com base nas evidências de que uma falha nos sensores de velocidade teve papel importante na queda do Airbus A330-200 que realizava o voo 447, entre o Rio e Paris. Por "uma questão de preocupação", a companhia aérea americana US Airways também iniciou ontem a troca desses equipamentos. Acompanhe todas as notícias e o que já foi publicado a respeito da tragédia A recomendação de não voar em modelos antigos foi feita por Christophe Présentier, um dos dirigentes do Alta. "Houve incidentes entre 2008 e 2009 com características similares às do voo AF447. Mensagens Acars (Aircraft Communications Adressing and Reporting System, as 24 mensagens automáticas enviadas antes da queda) comprovam a semelhança com as falhas verificadas em outros voos", argumentou. A eventual pane dos tubos de pitot é uma das pistas centrais apuradas pelo Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA). Os peritos do órgão diagnosticaram "incoerência na velocidade aferida" - um erro causado por falha nas sondas. "A investigação da pane dos tubos de pitot pode constituir um início de explicação sobre a queda do 447", justificou. FROTA O Alta é um sindicato minoritário e representa 5,5% dos pilotos da companhia. Até ontem, o Sindicato de Pilotos da Air France (Spaf), majoritário, não havia aderido à recomendação. A troca dos tubos de pitot das frotas de Airbus A330 e A340 já vem sendo realizada pela Air France desde 27 de abril e deve prolongar-se "pelas próximas semanas". A porta-voz Véronique Brachet informou que a companhia dispõe de 15 aviões A330 e 19 aparelhos A340. Desse total, nove têm equipamentos com duas ou três novas sondas. "Toda a frota A330 e A340 dispõe de ao menos um pitot de última geração", assegurou a porta-voz. O Estado revelou ontem que, em 2008, pelo menos dois voos, realizados entre Paris e Tóquio e Paris e Nova York por aviões A340, haviam enfrentado panes dos tubos de pitot, causando uma sequência de desligamentos em diferentes sistemas de navegação eletrônica - como o Fly by Wire e Air Data Inertial Reference Unit (Adiru), equipamentos que também sofreram pane no voo 447. As falhas acabaram indicadas pelas respectivas tripulações em Air Safety Reports (ASR), relatórios de incidentes nos voos enviados pelos pilotos à Direção Geral de Aviação Civil (DGAC) da França. Em comunicado oficial publicado no sábado, a Air France reconheceu que outros Airbus da frota já haviam enfrentado a falha antes, mas não deu detalhes. A nota também afirmou que testes em laboratório, realizados em 2009, indicaram a "melhora significativa no problema de congelamento em alta altitude em relação à sonda precedente". No avião que realizava a rota Rio-Paris, contudo, o equipamento não havia sido substituído e a hipótese de congelamento é uma das possíveis explicações para a "incoerência da velocidade". EXPLICAÇÕES A reportagem pediu à Airbus explicações sobre as diferenças técnicas e sobre a segurança dos tubos de pitot instalados no voo 447, em comparação com os novos modelos que estão sendo instalados. Claudia Müller, porta-voz do grupo, entretanto, argumentou que os dados estão sendo enviados às autoridades que investigam o acidente - como o BEA -, "conforme prevê o regulamento internacional", e não seriam revelados à imprensa. "A troca dos sensores não é obrigatória. É uma recomendação que leva em conta performance, conforto e manutenção", justificou a porta-voz. "Não é uma questão de segurança." Procurada, a fabricante dos tubos de pitot que equipam os Airbus A330 e A340, a também francesa Thales Group, não respondeu aos telefonemas do Estado para comentar as evidências de pane nos equipamentos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.