
08 de junho de 2011 | 00h00
O que causa espécie nisso tudo é, porém, a fragilidade com que um político aparentemente testado e experiente desmoronou. Até porque sofreu o mesmo desprazer da demissão após tenebroso processo, em 2006, julgava-se que Palocci se cercaria de cuidados. Mais: que não tivesse em sua volta nada que pudesse deixá-lo tão vulnerável. Pior ainda, que se mostrasse tão pouco preparado de argumentos para defender-se. Sua fragilidade é o que mais espanta.
Pelo menos aparentemente, o governo vinha se notabilizando por alguma resistência à pressões fisiológicas, negaceava espaços e recursos. O calvário de Palocci foi evidentemente explorado muito mais por seus aliados do que pela oposição. Até seus "companheiros" do PT aproveitaram para se desvencilhar de um personagem inconveniente, talvez mais por seus méritos do que pelos inegáveis vícios que revelaram-se no processo.
Assume a Casa Civil a senadora Gleisi Hoffmann, provavelmente com muito menos poder que seu antecessor. Também a articulação política do governo, que se revelou um verdadeiro desastre, deve passar por mudanças. Palocci já é passado e suas questões estarão agora no âmbito pessoal. Todavia, o que de pior pode acontecer é que o governo capitule ao fisiologismo despudoradamente revelado nos últimos dias, que recue acovardando-se.
É claro que todo governo e toda política requerem prudência, mas, com prudência, é preciso avançar. Por tudo o que se viu, está mais que evidente que esse sistema político, disfuncional e oportunista precisa ser reformado.
É CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO INSPER
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