Só aeroporto limita o avanço dos helipontos

Região de Congonhas apresenta maior risco nas operações

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Por Bruno Tavares , Diego Zanchetta e Rodrigo Brancatelli
Atualização:

Pela proximidade com a cabeceira 17 do Aeroporto de Congonhas, a Vila Olímpia é a região da capital onde existe o maior risco nas operações de pouso e decolagem de helicópteros, segundo pilotos, empresários e autoridades do setor ouvidos pela reportagem. Nessa área, assim como nas imediações de Avenida Paulista, Moema e Itaim-Bibi - onde estão cerca de 100 dos 272 helipontos cadastrados de São Paulo -, novos projetos para pontos de operação de helicópteros não serão aprovados, informou ao Estado a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). No Estado de São Paulo, a obtenção do registro da Anac para o funcionamento de um heliponto demora, normalmente, de 8 meses a um ano. Engenheiro responsável pelo projeto de mais de 50 helipontos, Marcos Moraes, de 53 anos, da W Fly Consultoria Aeronáutica, diz que os aviões passam muito próximos dos helipontos na Vila Olímpia, localizada em um "ponto de aproximação" dos vôos de Congonhas. "As operações nessa região são mais delicadas. Um helicóptero pode sair do Campo de Marte, na zona norte, por exemplo, com destino ao Centro Empresarial, na zona sul. O piloto terá de passar pela área de Congonhas. Para completar o trajeto, tem obrigatoriamente de pedir permissão ao Centro de Controle de Aproximação (APP) do aeroporto. Se houver algum avião se aproximando, o helicóptero tem de mudar a rota", aponta Moraes. O engenheiro afirma que houve construção desenfreada de helipontos na Vila Olímpia. Pela portaria 18 do Comando da Aeronáutica, os helipontos devem reservar raio mínimo de 400 metros entre si. "O procedimento na Vila Olímpia é crítico não pela distância dos helipontos, mas por causa do trânsito de aviões em baixa altitude na região. Há helipontos muito próximos da cabeceira de Congonhas", diz Moraes. "De qualquer forma, acho o uso de helicópteros bem seguro na capital. Existe um profissionalismo de alto nível entre operadores e pilotos." O chefe do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo (SRPV-SP), coronel Jeferson Ghisi Costa, diz ser quase impossível autorizar o funcionamento de helipontos no raio de abrangência do controle de vôos de Congonhas. "Se alguém quiser hoje construir um heliponto dentro da área controlada (por Congonhas), não deve conseguir", diz. "Para construir um heliponto, a empresa apresenta um projeto e propõe as rampas de pouso e decolagem. Nessa região de controle, o conflito de rampas é tão grande que a gente tem dificuldade em aprovar novos projetos." A "área controlada" é uma zona virtual de 102 quilômetros quadrados do céu paulistano - se estende das proximidades do Aeroporto de Congonhas, na zona sul, até o Estádio Palestra Itália, na zona oeste. Para prevenir acidentes, desde 2004 os pilotos são obrigados a informar suas posições à torre de controle do SRPV-SP. REGULAMENTAÇÃO Segundo pilotos experientes ouvidos pelo Estado, a falta de regulamentação, investimento e controle dos helicópteros faz muitos decidirem voar baixo para não aparecer nos radares e ter mais autonomia de vôo. "Os helicópteros de hoje têm tecnologia de navegação avançada, com GPS, mas o controle aéreo não tem isso", diz um piloto de uma empresa de São Paulo. "Ou seja, nós voamos com esse tipo de tecnologia sem avisar. Muitas vezes, também fazemos percursos em altitudes mais baixas para não sermos flagrados pelos radares. Com isso, economizamos tempo nos percursos e até temos mais segurança e autonomia." Empresários dizem que não consultam o Município durante o registro de um heliponto. "Quem legisla sobre espaço aéreo é a União. A Prefeitura só pode legislar sobre espaço físico, ocupação do solo. A Prefeitura pode, por exemplo, não concordar com a operação (do heliponto) por causa do ruído, do zoneamento. Mas hoje a autorização de funcionamento é com a Anac", afirma o dono da W Fly. "O ideal seria a consolidação de uma única lei entre a Prefeitura e a Anac."

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