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Sob pressão, Denise deixa a Anac

Ela entregou carta a Jobim, alegando ?razões de natureza pessoal?; saída de outros diretores não está descartada

Por Tania Monteiro
Atualização:

Alegando "razões de natureza pessoal", a advogada Denise Abreu renunciou ontem ao cargo de diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em "caráter irretratável". A carta foi entregue, em mãos, ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. Denise estava sob pressão do governo e do Congresso para deixar o cargo havia pelo menos um mês. Mas a renúncia começou a ser articulada efetivamente anteontem, depois que ela depôs na CPI do Apagão da Câmara. Para Jobim, a posição de Denise era insustentável desde segunda-feira, quando a juíza federal Cecília Marcondes disse ter sido enganada pela diretora num processo sobre o fechamento do Aeroporto de Congonhas. Em fevereiro, para convencer a juíza a liberar o uso da pista, Denise entregou-lhe um dossiê que incluía uma norma reforçando procedimentos de segurança para pousos sob chuva. Depois da decisão favorável, Denise afirmou que a norma não tinha valor legal. Irritado, Jobim mandou na quarta-feira abrir processo administrativo para investigar o episódio. O depoimento de quinta-feira na CPI foi a gota d?água para a renúncia. Como revelou o Estado, ao entregar aos deputados documentos da Anac, Denise expôs a mais grave das trapalhadas da agência. Segundo a ata de uma reunião de dezembro, a área técnica da Anac tinha a exata noção de que Congonhas poderia ser palco de uma tragédia como a de 17 de julho, quando um Airbus da TAM saiu da pista, bateu e explodiu, causando 199 mortes. Na reunião, os técnicos falaram do risco iminente de um avião "varar" a pista, por causa das condições precárias do piso. Congressistas souberam ainda anteontem que Denise pretendia renunciar. Mas a Assessoria de Imprensa da diretora negava a informação. "Ela pode até ser demitida, mas não renuncia de jeito nenhum", disse ao Estado o assessor Carlos Brickmann, para quem o desempenho de Denise na CPI tinha sido "muito bom". Denise entregou a carta de renúncia a Jobim pouco antes das 16 horas. Muito nervosa e abatida, ela estava acompanhada do presidente da Anac, Milton Zuanazzi, também alvo de pressões para deixar o posto. O encontro durou apenas alguns minutos. Depois, Jobim ligou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcava em Porto Alegre, avisando-o da decisão. No texto, Denise pediu o envio da carta a Lula, "a quem pessoalmente prestarei os esclarecimentos das razões de ordem pessoal que me levaram a esta decisão". À imprensa, o ministro disse que a decisão de Denise "começa a fazer com que a Anac reduza seu grau de atrito, seu grau de tensão com a sociedade". Questionado se esperava o mesmo gesto dos demais diretores, respondeu: "Cada coisa no seu tempo." A lei exige que a Anac tenha, no mínimo, três diretores para funcionar. O ministro não quis comentar se o brigadeiro Jorge Godinho, seu assessor mais próximo, substituirá Denise. A indicação resolveria dois problemas para Jobim: ter alguém de confiança na Anac e neutralizar a influência das empresas na agência, considerada excessiva.

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