Sobrevivente de chacina no Rio depõe no julgamento do PM

C.H.S, de 45 anos, é o único sobrevivente do massacre no qual 29 pessoas foram mortas no dia nas cidades de Nova Iguaçu e Queimados, no Rio, em 31 de março de 2005

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Por Agencia Estado
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"Foi Carlos Carvalho". Assim C.H.S., único sobrevivente da chacina da Baixada Fluminense, reconheceu o soldado da Polícia Militar Carlos Jorge Carvalho no Tribunal do Júri de Nova Iguaçu. O segundo dia de julgamento do PM, acusado de participação na chacina da Baixada Fluminense, começou na manhã desta terça-feira, 22, no Tribunal do Júri Nova Iguaçu com o depoimento das testemunhas, quatro de acusação e quatro de defesa. O primeiro a depor foi C.H.S, de 45 anos, que ficou traumatizado depois do crime e perdeu a memória, mas recuperado, decidiu falar pela primeira vez no processo. C.H.S. contou que estava num bar, em Nova Iguaçu, quando o Gol prata dos atiradores passou pela rua. Diante de outro bar, a 300 metros de distância, um homem saltou e disparou diversos tiros. Em seguida, o veículo continuou na rua e, em frente ao bar em que estava, saltou outro homem - este sentado no banco do carona. Segundo C.H.S., tratava-se do soldado Carlos Carvalho, que disparou contra sua perna direita. "Caí ali mesmo e só acordei no hospital", afirmou ele, que, depois do ferimento, passou a se locomover com dificuldades, usando muletas. A defesa do soldado tentou explorar o fato de a rua estar mal iluminada na noite da chacina, o que impediria o sobrevivente de identificar o atirador (de acordo com C.H.S., o reconhecimento se deu por meio de foto de jornal). Os sete jurados - cinco mulheres e dois homens - passaram a noite incomunicáveis num hotel pago pelo Tribunal de Justiça. O julgamento deve terminar nesta quarta-feira, 23. Contradições Primeiro dos cinco PMs acusados a ir a julgamento, Carvalho, se declarou inocente no primeiro dia de julgamento nesta segunda-feira, mas entrou em contradição ao contar o que fez no dia do crime - deu informações diferentes das que tinha fornecido em depoimentos anteriores. Carvalho garantiu que só soube da chacina na manhã seguinte, quando o amigo Marcos Antônio Carneiro lhe telefonou para contar o que havia ocorrido. Carneiro foi quem lhe emprestara o Gol prata que, segundo o Ministério Público, foi usado na chacina. No carro, foram encontrados vestígios de sangue de duas vítimas, além de munição. Carvalho acusou o delegado Rômulo Vieira, que participou das investigações, de "plantar provas contra ele". O soldado é acusado de 29 homicídios duplamente qualificados - cometido por motivo fútil (demonstração de força na Baixada Fluminense) e com recursos que impossibilitaram a defesa das vítimas -, uma tentativa de homicídio e formação de quadrilha. Ele já tinha sido condenado a 7 anos e oito meses de prisão, no início deste mês, em outro processo, por receptação de carros roubados. Respondem pelos mesmos crimes os cabos Marcus Siqueira Costa e José Augusto Moreira Felipe e os soldados Fabiano Gonçalves Lopes e Júlio César Amaral de Paula. Ainda não está definido se eles serão julgados juntos ou separadamente (o júri de Carvalho está sendo realizado primeiro a pedido de sua defesa). Os cabos Ivonei de Souza e Gilmar Simão foram pronunciados apenas por formação de quadrilha e aguardam julgamento em liberdade. Quatro PMs denunciados foram impronunciados por falta de provas. A chacina A chacina ocorreu na noite de 31 de março de 2005, nos municípios de Nova Iguaçu e Queimados. Vinte e nove pessoas foram assassinadas e uma ficou ferida. Nesta segunda, 21, cerca de 80 parentes das vítimas lotaram a sala do Tribunal do Júri. Eles chegaram cedo ao fórum, levando faixas de protesto e vestindo camisetas com fotos e nome dos mortos. Matéria atualizada às 11h40

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