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Sobreviventes, parentes e amigos falam do desabamento no centro do Rio

Saiba como pedreiro sobreviveu em elevador, advogado foi resgatado de prédio vizinho e outras histórias

Por Alfredo Junqueira , Tiago Rogero , Mariana Durão e Pedro Dantas
Atualização:

ALEXANDRO DA SILVA FONSECA SANTOS

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, de 31 anos, ajudante de pedreiro, sobreviveu ao desabamento dentro de um elevador

"Havia acabado de subir até o 9º andar com o material para a obra (pintura e revestimento de parede) que fazia no local. Quando a porta do elevador se abriu, o prédio já estava começando a cair. Reboco, tijolo, telhado. Parecia que estava se esfacelando. Quando vi que estava caindo, a primeira coisa que pensei foi em voltar para o elevador. Quando voltei para o elevador, ele caiu. Desceu em queda livre. Tentei me segurar em alguma coisa para não bater com a cabeça em cima quando ele parasse. Parou entre o terceiro e o quarto andar, mais ou menos. Foi o elevador que salvou a minha vida. A estrutura do elevador. Foi a única coisa que sobrou do prédio.

Esperei duas horas pelos resgate. Acho que foi o pior momento da minha vida. A primeira coisa que passou na minha cabeça quando tudo aconteceu foi na minha família. Pensei muito nos meus (quatro) filhos. Eles são todos pequenos e dependem de mim. Havia muita fumaça e estava tudo escuro. A única luz que tinha era a do meu celular. Meu compadre (André) estava do lado de fora do prédio e ficou falando comigo a cada cinco ou dez minutos, para me tranquilizar. No momento que ouvi a voz do rapaz do resgate, eu consegui relaxar um pouco. Os bombeiros cortaram um caminho para mim. Sou fininho e consegui passar.

Não tive ferimento nenhum. Parece milagre. Meu aniversário oficial é no dia 13 de fevereiro. Mas como nasci de novo ontem, vou também passar a comemorar o dia 25 de janeiro, como data de segundo nascimento."

 

RICARDO POROZZI, de 54 anos, chefe de cozinha e tio de Flávio Porozzi, de 30 anos, biólogo que foi ao prédio e está desaparecido

"O Flávio fazia um curso de informática no prédio, à noite. A noiva ligou para ele por volta de meia-noite e perguntou 'Flávio, onde você está?' Ele só disse 'Oi, meu amor' e a ligação caiu. Segundo ela, o som da ligação estava abafado. Ela ligou várias vezes depois, mas caiu na caixa postal. Continuamos esperançosos. Nossa expectativa é de que ele esteja vivo".

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FRANCISCO ADIR, amigo de Flávio, funcionário do Edifício Liberdade

"Flávio ligou para a namorada às 3h da manhã e disse "oi amor". A ligação caiu e não tivemos mais notícias. O pai dele é bombeiro aposentado e não pode fazer nada pelo filho. É desesperador."

 

CLAUDIO DE TAUNAY, advogado, resgatado no terraço no edifício nº 6 da Avenida Almirante Barroso, ao lado do Edifício Liberdade

"Estava fechando o escritório e ouvi um barulho que parecia a turbina de um avião. Fui até a janela e vi uma fumaça gigantesca. Eram umas 30 pessoas. Descemos as escadas correndo e paramos no sétimo andar, fechado por escombros. Nessa hora foi difícil. Chegamos a uma escada de emergência que dava para fora do prédio e fiquei na porta para ninguém pular."

 

ANTONIO MOLINÁRIO, dentista, dono de um consultório no Edifício Colombo

"Minha vida virou pó. Perdi R$ 400 mil só em material odontológico. Às 19h50, eu desci do prédio e fui embora do consultório. Na hora que eu passei, vi catadores de papel que geralmente ficam embaixo do prédio."

 

TENENTE CORONEL JULIO CEZAR MAFIA MARTINS, superior do dia no quartel da PM, no centro

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"Estava no QG da PM e ouvimos o barulho. Fui com uma equipe para a rua. No local, eu encontrei um homem com a perna presa embaixo de uma laje. Ele puxou meu pé e consegui resgatá-lo. Não sabíamos o que tinha acontecido e circulavam todos os tipos de boatos."

 

ANDRÉ LUIZ SOUZA, primo da contadora Ana Cristina Faria, de 55 anos, que está desaparecida

"A Ana e o marido, Roberto Flaviano, trabalhavam juntos no prédio, e sempre iam embora juntos. Ontem (anteontem) foi um dia atípico, porque, por motivo particular, ele saiu uma hora antes dela. Por volta de 20h os filhos ligaram para a Ana perguntando a que horas ela iria para casa, e ela respondeu que sairia entre 20h20 e 20h40. Depois não tivemos mais notícias dela."

 

MARCELO FERREIRA, dono de uma ótica, que escapou do desabamento com a mulher Flávia Rodrigues

"Não importa o prejuízo material. Escapei porque sai minutos antes com a minha mulher da loja. A primeira pessoa em que pensei foi o porteiro. Ele estava feliz com a chegada da aposentadoria. Não sei se ele conseguiu escapar. Havia muita gente no prédio."

 

EUNICE ALVES, prima de Margarida Vieira Carvalho, desaparecida

"Minha prima Margarida morava aqui com o marido, Cornélio, que era zelador do prédio. Ele já foi identificado como um dos mortos. Ele estava se aposentando e iam voltar para o Ceará. Agora queremos levar os corpos para serem enterrados lá, mas não sabemos como. Não tenho muita esperança dela estar viva."

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ROBERTO TOMAZ FERREIRA, ascensorista do Edifício Colombo

"Moro na Vila Kennedy (favela da zona oeste do Rio a 44,2 km do Centro do Rio) e detesto celular. Minha família ficou apavorada, porque foi difícil conseguir um orelhão para avisar que estava bem. Eu estava preocupado com meu amigo Marcelo. Ele escapou, mas quebrou a perna."

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