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Soldado preso no caso Amarildo é denunciado por outras torturas na Rocinha

De acordo com as denúncias do Ministério Público do Rio, às quais o 'Estado' teve acesso, sessões ocorreram antes do sumiço do pedreiro, desaparecido em 14 de julho

Por Marcelo Gomes
Atualização:

RIO - Preso desde 4 de outubro acusado de envolvimento na tortura seguida de morte e ocultação do cadáver do pedreiro Amarildo Souza, o soldado da PM Douglas Roberto Vital Machado, conhecido como Cara de Macaco, foi denunciado à Justiça por torturar outros dois moradores da Favela da Rocinha, na zona sul do Rio.

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De acordo com as denúncias do Ministério Público do Rio, às quais o Estado teve acesso, as sessões de tortura ocorreram antes do sumiço de Amarildo, na noite de 14 de julho. As duas vítimas, menores de idade, só decidiram denunciar o caso após a repercussão do desaparecimento do pedreiro.

Um dos adolescentes disse à promotora Marisa Paiva que a primeira sessão de tortura ocorreu em abril deste ano, num beco. Segundo o rapaz, Vital - junto com outros dois PMs não identificados - colocou um saco plástico em sua cabeça, enquanto exigia informações sobre paradeiro de traficantes da favela, além da localização de armas e drogas. Na mesma ocasião, o jovem disse ter sofrido choques. A tortura só terminou quando a mãe do menor chegou ao local.

A segunda tortura ocorreu entre 10h e 20h de 13 de julho, véspera do sumiço de Amarildo, dentro do Centro de Comando e Controle (CCC) da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha. O adolescente estava detido no local em virtude de cumprimento de mandado judicial. Segundo o menor, Vital e o soldado Adson Nunes da Silva colocaram sua cabeça dentro de um vaso sanitário e acionaram a descarga. Em seguida, os PMs despiram o adolescente e ameaçaram introduzir um cabo de vassoura em seu ânus. Por fim, obrigaram que ele ingerisse cera líquida. objetivo da tortura também seria obrigá-lo a fornecer informações sobre traficantes de drogas da Rocinha. Segundo o MP, as lesões corporais foram descritas no laudo de exame de corpo de delito da vítima.

A segunda vítima também revelou à promotora ter sido torturada duas vezes por Vital. Em maio, Vital abordou o rapaz na Rua 2 e colocou um saco plástico em sua cabeça para forçá-lo a fornecer informações sobre o tráfico. Depois, o menor foi levado para o CCC, onde teve os pés amarrados. Uma semana depois, por volta de 1h da madrugada, o rapaz voltou a ser abordado na Rua 2, desta vez por Vital e outros três PMs que ele não soube identificar. O menor narrou que foi levado para um barraco, onde Vital colocou cacos de vidro em sua boca e esfregou. Nos dois casos, a vítima só foi liberada depois que sua mãe chegou e começou a gritar.

As duas denúncias de tortura foram distribuídas para as 31ª e 40ª Varas Criminais do Rio, que já abriram processo. Com isso, os soldados Douglas Vital e Adson Nunes tornaram-se réus. Os magistrados, no entanto, indeferiram os pedidos de decretação da prisão preventiva dos policiais. Os PMs ainda não constituíram advogados nos dois processos. Adson Nunes não foi localizado pela reportagem.

Liberdade negada. Na semana passada, os desembargadores da 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio negaram, por unanimidade, o pedido de habeas corpus feito pela defesa de quatro PMs acusados de envolvimento de Amarildo. Além de Douglas Vital, permanecerão presos preventivamente os soldados Marlon Campos Reis, Jorge Luiz Gonçalves Coelho e Victor Vinicius Pereira da Silva.

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