Solo e água de bairro em Campinas estão contaminados

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Por Agencia Estado
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A contaminação do solo e do lençol freático do bairro Mansões de Santo Antônio, em Campinas, a 90 quilômetros de São Paulo, é maior e mais intensa do que o previsto, segundo relatório encomendado pela Construtora Concima e divulgado hoje pela Prefeitura e Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb). No local contaminado funcionou durante 20 anos a indústria de solventes Proquima. A Construtora Concima adquiriu o terreno e começou a construir um conjunto residencial. No solo, produtos químicos atingiram até 15 metros de profundidade em uma área de 800 metros quadrados. A água está "significativamente contaminada", como definiu o engenheiro ambiental da prefeitura, Flávio Gordon, com pelo menos 21 substâncias derivadas de solventes. A contaminação já percorreu 200 metros no lençol freático e alguns produtos atingiram o córrego do bairro. Informadas em maio sobre a suspeita de contaminação, a prefeitura e a Cetesb tomaram algumas medidas, entre elas pediram um relatório à Construtora, que o entregou em agosto. Nas chácaras do bairro moram 847 pessoas e 112 vivem em um de três edifícios de um condomínio construído sobre o terreno onde funcionou a fábrica. Os dezenove poços artesianos das chácaras foram interditados pela Vigilância Sanitária Municipal, que proibiu o uso da água do córrego. A Cetesb embargou a continuação dos edifícios do condomínio e determinou que a terra não seja mexida. A área com contaminação superficial no solo foi coberta com 20 centímetros de argila. São medidas provisórias até que sejam tomadas as definitivas. Alternativas No relatório apresentado, a Concima propôs três alternativas de remediação - a remoção do solo contaminado para tratamento, o tratamento do solo no local e a construção de uma barreira para isolar a área contaminada. A Cetesb multou em cerca de R$ 30 mil a Concima, por entender que a proposta está incompleta. Não há especificação, por exemplo, da quantidade de terra que teria que ser removida. A empresa obteve um prazo de 30 dias, a vencer em duas semanas, para apresentar um estudo detalhado sobre as alternativas de remediação. Apesar da gravidade da contaminação, os moradores das chácaras e do condomínio, batizado com o nome do bairro, não precisam ser removidos, afirmou Gordon. "Não existe indicação para isso." Segundo ele, os moradores não têm contato direto com o solo nem com a água contaminada. Mas o engenheiro não descartou que essa contaminação já possa ter ocorrido. Durante a construção dos prédios, dois deles em fase de acabamento, sob embargo, 64 pedreiros trabalharam diretamente em contato com o solo, na fundação dos edifícios. Outros 40 empregados de uma empresa de ônibus usaram por muito tempo água de um poço em que foi constatada elevada contaminação. A Vigilância Sanitária está cadastrando essas pessoas e também os moradores que devem passar por exames médicos e análises clínicas. Gordon esclareceu que os solventes não permanecem no organismo por longo período e não deverá haver vestígios de contaminação mesmo em pessoas que tiveram contato com o solo e a água. "As substâncias não ficam no organismo, mas podem deixar seqüelas e doenças", afirmou. Entre elas o câncer. "O cloreto de vinila, derivado dos solventes, é um produto cancerígeno. Mas é preciso relativizar, porque é difícil determinar nexo causal entre essas substâncias e as doenças", afirmou Gordon. O trabalho da Vigilância e da Secretaria Municipal de Saúde, com exames, é principalmente preventivo. Os potenciais contaminados, mesmo sem confirmação, serão orientados a fazer exames periódicos.

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