Soluções de engenharia para driblar poluição sonora

Para especialista, má educação é principal responsável por ruídos na cidade, mas há remédio

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Por Lilian Primi
Atualização:

Morar em uma cidade como São Paulo pode significar a convivência forçada com um nível de ruído muito além dos 70 decibéis (dB) - máximo permitido por lei, que cai para 45 dB à noite. "O problema está nos cidadãos, que desobedecem as leis da boa convivência", diz o engenheiro civil especialista em conforto acústico Racine Tadeu Araújo Prado, professor do Departamento de Construção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. "O barulho do trânsito é até certo ponto, suportável. Mas um bar com som em alto volume e onde as pessoas falam aos berros é inconcebível", ressalta. Mas para quem não pode esperar que o vizinho aprenda a respeitar o próximo, a Engenharia criou algumas soluções baseadas na instalação de barreiras, que impedem o som de entrar no ambiente. "Isso implica em vedar totalmente a residência, com portas e janelas anti-ruído." Ou instalar barreiras reais, como a parede de concreto que existe na área de chegada da Rodovia dos Bandeirantes. "Qualquer parede, de concreto ou tijolo, tem grande massa e, portanto, barra o som", explica. O problema, segundo o professor, é o preço. "A classe média dificilmente tem acesso a elas", avalia. Na empresa especializada em sistemas anti-ruído Atenua Som, por exemplo, a janela anti-ruído (com vidro duplo e caixilhos vedados) custa a partir de R$ 1,5 mil. "Como o ambiente tem de ficar fechado, costuma-se incluir o ar condicionado", conta o vendedor Marcelo Alex dos Santos. A empresa atende o Brasil todo, mas o vendedor diz que, em São Paulo, a maioria dos clientes está em bairros com trânsito intenso, como Morumbi, Campo Belo, Moema e Itaim Bibi. Na Avenida Nove de Julho, na região central, por exemplo, o ruído pode chegar a 90 dB. A média nas ruas de São Paulo é de 80 dB, segundo o vendedor. "A maioria quer vedar os dormitórios", conta. A empresa criou um sistema de sobreposição para contornar as limitações de condomínios que não permitem mudanças na fachada. Ele garante redução na intensidade do ruído de 70%. Mas não é apenas o barulho externo que incomoda. Há o ruído próprio do funcionamento da casa "que deve ser absorvido, para não reverberar, o que se consegue com revestimentos fibrosos", ensina o professor Prado. A clássica solução das caixas de ovos criam um bom ambiente para ouvir música, assim como o carpete e os forros de materiais fibrosos. Mas o arquiteto e empresário Schaia Akkerman, sócio-diretor da Acústica Engenharia, diz que, com as espessuras das paredes e lajes que se usam atualmente, isso apenas reduz o problema. "O boom imobiliário acirra a concorrência, baseada principalmente no preço", explica. Para conseguir um custo menor, muitas vezes se sacrifica a qualidade de vida no ambiente. "Com lajes mais finas, os passos do vizinho de cima ecoam embaixo. Isso só se revolve durante a construção, com a colocação de mantas isolantes entre um andar e outro."

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