SP corre contra o tempo para garantir qualidade das águas

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Por Agencia Estado
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As empresas de saneamento que operam nos quase cem municípios das duas áreas mais críticas de abastecimento de água no Estado de São Paulo - a Região Metropolitana da capital e as cidades das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Tietê - terão que investir mais de R$ 2 bilhões em programas de tratamento de esgoto, nos próximos quatro anos, para garantir a qualidade mínima da água fornecida à população. Dados técnicos da Secretária de Estado de Recursos Hídricos, da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e do Comitê das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí indicam que o lançamento de esgotos doméstico e industrial nos rios da região acabará por provocar um colapso no abastecimento de água a partir de 2005. Em algumas cidades, a qualidade da água já chegou no chamado Nível 4, ou seja, ela é imprópria para consumo mesmo depois do tratamento. "O esgoto sobrecarrega as águas de metais pesados e produtos químicos que não são depurados pelas estações de tratamento", sentencia Aldo Rebouças, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Estadual de São Paulo (USP). Em dez municípios da bacias do Piracicaba, Capivari e Tietê as empresas de tratamento já foram intimidas na Justiça a tratar 100% de seus esgotos até 2010. Um dos casos mais dramáticos é o de Campinas, cidade com um milhão de habitantes que se transformou na maior poluidora da bacia dos rios Piracicaba, Atibaia e Capivari. Campinas trata apenas 4% de seus esgotos e compromete a qualidade da água de, pelo menos, quatro municípios à jusante dos rios. Processada pelo Ministério Público de Americana, uma das cidades mais prejudicadas pela poluição de Campinas, a prefeitura foi condenada no início deste ano a um programa escalonado para atingir a meta de 75% de tratamento de seus esgotos até 2013 anos. "Vivemos uma corrida contra o tempo para garantir a qualidade mínima dos recursos hídricos destas regiões", afirma Lineo Bassói, gerente do Departamento de Recursos Hídricos da Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Bassói reconhece que a escassez dos últimos dois anos, que desencadeou o racionamento de energia, colocou as autoridades do setor em "alerta máximo". Mas ele atribuiu a crise ao descaso histórico das administrações públicas com o saneamento. Investimentos "Obras de saneamento não aparecem aos olhos dos eleitores", avalia ele. "Para se ter uma idéia, investimentos pesados em saneamento só começaram a ser feitos na cidade de São Paulo a partir da metade da década passada." Entre 95 e 99, a Sabesp investiu US$ 900 milhões em obras de coleta e tratamento de esgoto na Capital. Mesmo assim, dos 723 bilhões de litros de esgoto recolhidos no ano passado, apenas 380 bilhões de litros foram tratados. O resto foi lançado nos cursos d´água. Nos próximos quatro anos, a Sabesp anuncia investimentos de mais de R$ 800 milhões para atingir a meta de coletar 90% do esgoto produzido na Capital e tratar 80% dele. "Isso representa a retirada de bilhões de litros de esgoto por ano do Tietê, mas a possibilidade de que ele volte a ser uma rio limpo, só daqui a muitas décadas", afirma Élison Airoldi, superintendente da Unidade de Produção de Água da empresa. O Comitê das Bacias estima que nos 62 municípios da região do Piracicaba, Capivari e Tietê serão necessários investimentos de R$ 1,4 bilhão para tratar, em vinte anos, 68% da carga poluidora doméstica e industrial lançada nos rios. "Em 93, o índice de tratamento de esgoto doméstico na região não atingia 4%", afirma o secretário executivo do Comitê, Luiz Roberto Moretti. "Foram necessários sete anos para que atingíssemos os atuais 18%." Em alguns municípios os índices de tratamento são dramáticos. Pedreira trata apenas 0,5% de seu esgoto; Santa Bárbara D´Oeste, 1%; Limeira, 8%; Rio Claro, 18%; Joanópolis, 28%; Cosmópolis, Valinhos e Piracicaba, 30%. "Se estes índices não forem revertidos, não há como fugir: poderemos até ter água, mas não poderemos usá-la", argumenta Moretti. Programa Nesta segunda-feira, o secretário de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Antonio Carlos de Mendes Thame, e o superintendente de Cobrança e Conservação da Agência Nacional de Águas (ANA), Antônio Félix Domingues, anunciam em Campinas um programa de investimentos para a recuperação da qualidade das águas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. De acordo com a assessoria de imprensa de Thame, o plano é uma das prioridades da Secretaria para os próximos anos. "A região passou por um intenso processo de concentração urbana, industrial e agrícola, tornando-se uma das mais problemáticas do Estado de São Paulo na questão de poluição hídrica, fruto do lançamento de esgotos domésticos e resíduos industriais nos cursos d´água", informou a assessoria.

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