SP já transferiu 71 presos rivais do PCC

Para tentar evitar confrontos no Estado, governo enviou detentos de três facções para local sigiloso; foram mapeados 220 mil prontuários

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Por Alexandre Hisayasu e Marcelo Godoy
Atualização:
Presidente Bernardes. Dezesseis líderes do PCC, entre eles Marcola, estão no Regime Disciplinar Diferenciado Foto: Heloise Hamada/iFronteira

SÃO PAULO - Setenta e um presos foram transferidos pela Secretaria Estadual da Administração Penitenciária (SAP) para uma prisão mantida em sigilo para evitar que a guerra de facções, que já matou 113 presos em quatro Estados desde outubro, chegue a São Paulo. Os detentos transferidos por ordem do secretário da pasta, Lourival Gomes, pertenciam a três facções: Comando Vermelho (CV), Família do Norte (FDN) e Okaida – esta, cujo nome é uma adaptação de Al-Qaeda, atua em Alagoas, Pernambuco e Paraíba.

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No fim de outubro, 65 presos haviam sido transferidos e, na tarde desta sexta-feira, 6, mais seis detentos suspeitos de pertencerem a essas facções foram recolhidos pela SAP e enviados para o isolamento. Além deles, a direção da secretaria também mantém isolados 16 líderes do PCC, entre eles o chefão Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), o cárcere duro da penitenciária de Presidente Bernardes, no oeste do Estado.

A decisão da secretaria de fazer o levantamento de facções no Estado foi tomada em outubro do ano passado, logo após as primeiras mortes da guerra – foram 18 em presídios de Rondônia e Roraima. A Inteligência do Grupo de Atuação Especial de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPE), descobriu que a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) dera uma ordem para localizar os seus inimigos do CV que estivessem nas 166 unidades prisionais paulistas. 

“A partir das mortes nos presídios do Norte, a guerra entre CV e PCC foi oficializada”, afirmou o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco de Presidente Prudente, região onde a cúpula do PCC está presa.

Antecipar. De acordo com o secretário Lourival, a Inteligência da SAP já havia começado o levantamento antes da ordem do PCC. “Nós sempre estamos atentos para tentar antecipar os movimentos dos presos.”

De acordo com Lourival, a secretaria pesquisou cerca de 220 mil prontuários para encontrar os possíveis alvos de uma vingança do PCC. “Nenhum preso confessa pertencer a uma facção”, afirmou. Além dos registros do sistema carcerário, a SAP usou informações recolhidas pelos diretores de unidades prisionais.

Também foram obtidos dados com a rede de informantes dos funcionários do sistema prisional. Para justificar a transferência, mesmo que o preso negasse pertencer às facções rivais do PCC, ele foi realocado por segurança ou precaução. “No mínimo, você dizia para o preso que, com o sotaque de carioca dele, ele poderia ser confundido com alguém do CV e morto”, contou um diretor de presídio.

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Levantamento feito pela inteligência do Ministério Público Estadual (MPE) mostra que, além dos novos inimigos do PCC – CV, FDN e Okaida – teriam presença no Estado outras facções menores, como o Terceiro Comando da Capital (TCC), o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC), o Cerol Fino e a Seita Satânica.

O TCC e o CRBC foram fundados por dissidentes do PCC e tiveram a maioria de seus líderes já assassinada pelo Primeiro Comando da Capital. Entre eles estão três dos fundadores de seu principal rival, o CRBC.

Método. Em 1999, a cúpula do PCC inaugurou no anexo de segurança máxima da Casa de Custódia de Taubaté a forma de acerto de contas que se tornou um método de conduta – decapitação e extração do coração de suas vítimas. Com a participação de Marcola e de Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, o método teria sido criado por Jonas Mateus, que era açougueiro. A cúpula do PCC cortou as cabeças de Marx Luis Gusmão de Oliveira, o Dentinho, Ademar dos Santos, o Da Fé, e Antonio Carlos dos Santos, o Bicho Feio. A cabeça do último foi jogada aos pés do magistrado que estava no presídio para negociar o fim da rebelião.

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A Seita Satânica foi por diversos períodos aliada do PCC, assim como a ADA (Amigos dos Amigos), facção carioca que se tornou um apoio do PCC depois que Roberto Soriano, o Tiriça, e Jeremias Rogério de Simone, o Gegê do Mangue, ambos da cúpula do PCC, negociaram um acordo em 2010 com Francisco Bonfim Lopes, o Nem, líder da ADA do tráfico na Rocinha.

Mapeamento. De acordo com o promotor Gakiya, o PCC está presente em todo o País, mas enfrenta forte oposição nos Estados do Amazonas (FDN), Ceará (CV), Maranhão (Bonde dos 40), Paraíba (Okaida), Mato Grosso (CV), Rio Grande do Norte (Sindicato RN) e Santa Catarina (Primeiro Grupo Catarinense). “A forma imediata de se evitar outras tragédias é separar os presos de facções rivais”, afirmou.