SP pronta para a invasão metaleira

Paulistanos fiéis ao estilo heavy metal se preparam para maratona de shows na cidade nos próximos dias

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Por Humberto Maia Junior
Atualização:

As rádios os ignoram. Os canais de TV, mesmo os dedicados à música, idem. A imprensa especializada também torce o nariz para eles. Pouco importa. Rock?n roll ain?t gonna die, já diz um dos versos de uma das músicas do AC/DC. Fazendo da letra dos irmãos Angus e Malcolm Young um credo, metaleiros resistem a modismos, preconceito e falta de divulgação e mantêm viva a mais forte relação de amor do cenário musical. A prova mais recente foi dada pelos fãs paulistanos da banda inglesa Iron Maiden, uma das mais cultuadas pelos metaleiros. Para quem não sabe, é aquela das camisetas com uma caveira cabeluda - chamada de Eddie. A banda de Bruce Dickinson e Steve Harris toca em São Paulo dia 2, no Parque Antártica. No primeiro dia, 80% dos cerca de 35 mil ingressos foram vendidos. Hoje, para conseguir entradas, só com cambistas ou improváveis desistentes. E os próximos três meses prometem muitas filas. Além do Iron Maiden, tocam em São Paulo Ozzy Osbourne, o eterno vocalista do Black Sabbath - grupo apontado por especialistas como precursor do heavy metal -, além de outras bandas menos conhecidas por quem não é do meio, como Dream Theater, Gamma Ray e Helloween, mas que devem lotar as casas de show. Essa demonstração de paixão não é nada para quem tem na ponta da língua a letra de cada música (só o Iron Maiden gravou 134), fica horas em frente de um hotel para uma foto do ídolo e sabe de cor as diferentes formações de uma banda - o Cradle of Filth já teve seis guitarristas, cinco bateristas, cinco baixistas e três baixistas. Casos extremos de idolatria (sim, o que foi citado acima é apenas o esperado de um metaleiro que se preze) incluem tatuar os rostos dos músicos, adotar o visual e estilo de vida do astro (tem fã do Slash, ex-guitarrista do Guns?n Roses, que quer ser tão idêntico a ele a ponto de copiar a tatuagem e até as falhas que ela contém). A produtora de TV Caroline Mansour, de 22 anos, se lembra com o maior orgulho de ter estado na primeira fila no último show do Iron Maiden em São Paulo, há três anos. "Quase morri! Me empurravam contra a grade, prenderam meu cabelo. Mas valeu, foi irado!" Tão legal foi sair correndo por meia Avenida Paulista, há seis anos, para ver de perto o Bruce Dickinson. Ele estava no prédio da Gazeta. Caroline estava na porta, esperando para vê-lo. Foi quando soube, por um desconhecido que ouvia rádio, que Bruce estava na 89 FM. "Fomos correndo até lá." Conseguiram entrar no prédio após se identificarem como jornalistas. Mas tiveram uma visão fugaz do ídolo. "Ele só falou ?hi? e o segurança nos colocou para fora. Saímos chorando de raiva." FORA DE MODA O que explica essa paixão e qual a origem desse sentimento são as perguntas feitas por quem vê um garoto tatuado, de cabelos compridos e camiseta de uma banda andando na rua. Para Ricardo Batalha, redator-chefe da Roadie Crew, revista especializada em heavy metal, é justamente por não ser uma moda que os fãs são tão fiéis. Por estarem fora das rádios e TVs, metaleiros recorrem aos amigos e à imprensa especializada para saber as novidades. Isso cria um sentimento de exclusividade, que resulta numa espécie de cumplicidade com a banda e, por fim, a paixão e fidelidade. "Fico brava quando vejo todo mundo dizer que gosta de uma banda que eu gosto e acompanho desde o começo", diz a produtora Viviane Carvalho, de 22 anos, amiga de Caroline. Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, uma das bandas mais cultuadas do mundo e com 25 anos de estrada, diz que ainda se impressiona com a fidelidade dos fãs. "Eles compram os discos, têm coleção de camisetas, guardam revistas e crescem com a banda. Mesmo que tenham de cortar o cabelo, a paixão está lá, debaixo do terno." ESTILO Caroline, por exemplo, não tira as camisetas pretas do armário. Vaidosa, prefere calças de cintura baixa, blusas decotadas e maquiagem. "Não preciso mostrar que gosto de metal pelas roupas." O universitário Tiago Guilherme de Oliveira, de 21 anos, não abandona o visual. "Heavy metal é um estilo que não funciona só com música. Tem visual e ideologia para a vida inteira." Por isso, cuida com carinho da cabeleira negra e volumosa (ao estilo dos roqueiros dos anos 80), usa calças pretas justas e camiseta idem. "Tenho clientes que vão dos 15 aos 50 anos", diz, com orgulho, Silvano Brancati, sócio do Bar Manifesto, um dos locais favoritos de quem curte rock. Além dos fãs, muitos músicos estrangeiros visitam a casa após os shows, como Bruce Dickinson, Dave Mustaine, do Megadeath, Lemmy Kilmister, do Motorhead, e Jason Newsted, ex-baixista do Metallica. "A maioria das casas noturnas não dura cinco anos. Estamos bem há 13. É mais do que prova que o cenário do rock é forte e continua crescendo." E uma curiosidade: foi a imprensa brasileira, desacostumada à horda de cabeludos vestindo preto, cintos e braceletes que invadiram o Rio no Rock in Rio I, em 1985, que criou o termo metaleiro para designar o fã de rock pesado. ONDE IR: Bar Manifesto (Rua Iguatemi, 36 C, Itaim); Blackmore Rock Bar (Alameda dos Maracatins, 1.317, Moema); Morrison Rock Bar (Rua Inácio Pereira da Rocha, 362, Vila Madalena)

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