Superlotação de hospital pode ter vitimado bebês

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Do dia 1º de maio ao último domingo, seis bebês morreram na UTI neonatal do Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, no Grande Rio, onde são realizados em média cerca de 350 partos por mês (aproximadamente 80% de alto risco). O motivo seria a superlotação da Unidade de Tratamento Intensivo, que possui sete vagas, mas estaria sendo ocupada por mais de dez recém-nascidos. A Unidade Intermediária, com 13 leitos, abrigava cerca de 20 bebês. A direção do hospital, vistoriado, nesta segunda-feira, pela Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Estado, afasta a hipótese de as mortes estarem relacionadas a um surto de infecção, apesar de a média mensal de óbitos na maternidade, de quatro casos nos últimos três anos, já ter sido ultrapassada em menos de 20 dias. ?Por precaução? Após as mortes, quinze bebês foram removidos do hospital para unidades particulares que mantêm convênio com o Estado "por precaução", de acordo com a diretora do Azevedo Lima, Heleonora Orvelin, que assumiu o cargo em 1999. Ela admitiu que a UTI neonatal estava superlotava, mas disse que a causa do problema é a falta de maternidades públicas na região - o hospital de Niterói é o único especializado em partos de alto risco e também recebe pacientes de São Gonçalo e de municípios da Região dos Lagos, que não têm unidades públicas de referência. Heleonora afirmou que, dos seis bebês, três morreram de infecção intrauterina (portanto não adquirida dentro do hospital) e três porque teriam nascido abaixo do peso ideal (todos com menos de 600 gramas) e com problemas como incompatibilidade de RH e lesões intestinais. ?Superlotação? O deputado Paulo Pinheiro (PT), presidente da Comissão de Saúde, afirmou que vai encaminhar relatório sobre o hospital para a Vigilância Sanitária e o Ministério Público Estadual. "A superlotação lamentavelmente causou problemas. Outros locais do Estado onde há bolsões de pobreza vão ter o mesmo problema, por falta de investimento, e mais crianças vão morrer, porque não há UTIs neonatais públicas disponíveis. Por isso é um caso de Justiça", afirmou o deputado, que é pediatra e já havia intermediado a assinatura, há dois anos, de um termo de ajustamento de conduta, cobrando a abertura de leitos na região. "Se o hospital estivesse menos lotado, o atendimento a esses casos considerados graves seria melhor e, talvez, alguma morte poderia ter sido evitada." Revolta Ainda há um bebê internado em estado grave na UTI do hospital, necessitando de diálise. Outros quatro estão sendo medicados com antibióticos, e os quatro bebês que nasceram neste fim de semana foram transferidos e estão isolados no Centro Obstétrico. Apesar das justificativas apresentadas pela diretoria do hospital, o clima, nesta segunda-feira, era de revolta entre as mães e pais de crianças internadas no Azevedo Lima. "O que houve foi infecção generalizada. Não sei o que fazer com a minha criança, estou desesperada. Isso aqui é um matadouro", disse a mãe de um bebê, com o filho no colo, do alto de uma sacada no terceiro andar do hospital, onde fica a maternidade. O acesso ao local foi proibido. ?Não sabemos de nada? Gilmar Carrilho da Costa, pai de Matheus, que nasceu na última segunda-feira, dia 13, e permanece internado, afirmou que seu filho estaria sendo medicado com o remédio Cipro 25 ml desde o dia 14, e que os médicos se recusam a dar informações sobre o seu estado de saúde. "Estamos aqui há mais de uma semana e não sabemos de nada. A Rosana, minha mulher, está lá em cima com o Matheus sem saber o que fazer e com medo de que aconteça o pior. Mas não podemos sair, porque aqui é o único hospital público que tem maternidade na região, e não tenho dinheiro para pagar a diária de R$ 1,5 mil que as clínicas privadas estão cobrando por aí", disse Costa. Tensão e dívida Simone da Conceição Batista, de 22 anos, grávida de nove meses, afirmou que médicos pediram que ela procurasse outro hospital, apesar de a direção sustentar que novos partos não estariam sendo recusados. "O clima entre as mães é muito tenso." O ex-secretário da Saúde Gilson Cantarino rebateu as críticas feitas pelo deputado do PT, afirmando que houve queda na mortalidade neonatal em 2001 no Estado, segundo ele uma conseqüência da ampliação em 122 leitos de UIs e UTIs na rede pública nos últimos três anos. Cantarino acredita que o problema de superlotação no Azevedo Lima tenha ocorrido porque o Estado estaria enfrentando dificuldades para a contratação de leitos privados devido a uma dívida de R$ 8 milhões.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.