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SuperVia 'assume responsabilidade' por atos de violência no Rio

Empresa entrou em acordo com ferrovários e greve foi finalizada; outras pessoas denunciam casos de agressão

Por Talita Figueiredo e Clarissa Thomé
Atualização:

A SuperVia informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "assume a responsabilidade" sobre os atos de violência praticados pelos agentes de vigilância na última quarta-feira e que vai rever a metodologia de treinamento das equipes que fazem a segurança nos terminais. Nesta quinta-feira, 16, a greve feita pelos ferroviários, que desencadeou problemas no transporte do Rio, foi encerrada.

 

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Segundo a empresa, foi aberto um processo administrativo para investigar se faltou treinamento ou se foi falha de supervisão. O vídeo com as imagens captadas das agressões fará parte dos treinamentos, feitos a cada seis meses, para exemplificar como não se deve agir, mesmo em situações que fujam do controle.

 

De acordo com a SuperVia, ao contrário do que um ex-funcionário da empresa relatou ao Estado, não há, "em hipótese nenhuma", a indicação de que se use a força em situações extremas e que tem um conteúdo programático de treinamento baseado no Código de Ética e Conduta da companhia. Sobre o inquérito policial que investiga suposta agressão a um adolescente de 17 anos em março deste ano, a empresa disse que não tem a lista de funcionários que trabalha em cada terminal, já que o serviço é realizado por três empresas.

 

A SuperVia informou que são as empresas que deveriam ter informado a polícia dos nomes. O Estado procurou o advogado das empresas, identificado apenas como Luis Eduardo, mas não obteve retorno.

 

Outro caso

 

A agressão a passageiros na estação de Madureira, na manhã de quarta-feira, que resultou na demissão de quatro funcionários da SuperVia, não foi um fato isolado na empresa. Há um mês, um adolescente de 17 anos disse que foi espancado por cinco agentes de controle da concessionária. A mãe do rapaz registrou o caso na 29.ª Delegacia de Polícia (Madureira). Apesar dos ofícios da delegacia, 30 dias depois do episódio a SuperVia não informou os nomes dos agentes que estavam de serviço em 16 de março.

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De acordo com o boletim de ocorrência 1716/2009, o jovem M. estava sentado num dos bancos da plataforma com dois amigos, por volta das 19h40, quando foi abordado por quatro agentes, vestidos de colete vermelho. Os funcionários acusavam o rapaz de ter roubado o boné de um passageiro. M. contou que foi conduzido a uma cabine dentro da estação, onde foi agredido. Um quinto agente se juntou ao grupo e "atingiu a vítima com o próprio chinelo nas solas dos pés". O rapaz disse ainda que os agentes roubaram sua carteira.

 

O caso foi registrado como lesão corporal, ameaça e roubo. Mas, segundo a polícia, a SuperVia não informou o nome dos funcionários. Nesta quinta, duas novas vítimas da agressão de quarta-feira, em que passageiros foram atacados com socos, pontapés e "chicotadas" com o cordão do apito pelos agentes de controle, estiveram na 29.ª DP. O desossador Aroldo Henrique Pinheiro, de 44 anos, foi atingido por um chute nos testículos e tem dificuldades para andar. Ele estava atrás de um homem que nas imagens feitas pela TV Globo é atingido por um soco. Em seguida, o agente dá um pontapé, que acabou acertando Pinheiro. "Voltei para casa com muitas dores. Tive febre à noite e procurei o posto de saúde. O médico me encaminhou com urgência a um urologista. Não sei o que vai acontecer. Agora só quero cuidar da minha saúde", disse.

 

O corretor Edjayme dos Santos Castro, de 38 anos, teve uma costela fraturada. Ele estava de costas para a porta e tentava proteger a mulher, quando foi atingido por um chute. "Eu aguentei o chute, mas se fosse uma pessoa de idade o pior teria acontecido. Me trataram como bandido".

 

Nove agentes de controle, inclusive os quatro demitidos, serão interrogados hoje na Delegacia de Defesa dos Serviços Concedidos (DDSC). "Quero saber que tipo de orientações eles recebem e também vou ouvir o responsável pelo treinamento dos funcionários. Ficou claro que esses funcionários não têm preparo nem equilíbrio psicológico para lidar com o público", afirmou o delegado Eduardo Freitas, da DDSC.

 

Diretor do sindicato dos Vigilantes e ex-funcionário da Supervia, Carlos Roberto da Silva Morais, disse que os agentes são orientados a reagir caso os passageiros se mostrem agressivos. "A supervisão fala mesmo que, em legítima defesa, podem usar desses expedientes (agressão a passageiros). Tem que reagir. Eu entendo que ordem absurda não deve ser cumprida, mas o pessoal teme ser punido". Ele criticou a contratação de pessoal não capacitado para a função.

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